Por Almiro Spies
Há 90 anos, no dia 24 de dezembro de 1928, era véspera de Natal, os quatro sinos da igreja badalaram pela primeira vez.
Portanto, há 90 anos os sinos da igreja matriz de Cerro Largo estão badalando, chamando, orientando e anunciando diversos atos e funções de interesse do povo.
A beleza do som e do tom do conjunto dos quatro sinos, ou como diz o conto "O som dos sinos a bimbalhar", desperta encanto dos visitantes e interesse por histórias desta maravilha de Cerro Largo. E normalmente pouco sabemos informar.
Aproveito a passagem de 90 anos, e em atenção a beleza do som e qualidade e raridade do conjunto para publicar um pequeno histórico desta maravilha que Cerro Largo possui.
O histórico que aqui publico, consegui no arquivo da Paróquia e de informações de diversas pessoas que viviam naquele tempo e hoje não existem mais, principalmente de Arno Kliemann, o Bubi Kliemann, que é filho de Augusto Kliemann. Do Augusto tratamos logo adiante.
É um histórico que apontei há 25 ou 30 anos e divulguei na Rádio Cerro Azul num programa de Centro Cultural 25 de julho, e hoje forneço aos leitores do Portal LH Franqui.
As torres da igreja já foram construídas para suportarem quatro sinos. Seis anos após a inauguração, em 1927, surgiram planos para angariar sinos que condissessem com a imponência da igreja.
Desconheço se houve comissão de estudos sobre tamanhos, som ou preços. O Pe. Eduardo Wolter, jesuíta, pessoa de avultada cultura e vigário da paróquia, natural da Alemanha, com certeza sabia de uma boa fundição de sinos no país de sua origem.
Havia também uma fonte de informação, já em 1926 as capelas de São Francisco e também da Linha Tremônia adquiriram seus sinos. Seja como for, os quatro sinos foram encomendados na firma Bromberg, em Porto Alegre, e fundidos na cidade de Bochum, na Alemanha.
Vieram da Alemanha até Porto Alegre de navio, de Porto Alegre até Santo Ângelo de trem e de Santo Ângelo até Cerro Largo com carroça de bois. Os carroceiros eram Raimundo Wagner e um senhor Welter, ambos tiveram que reforçar consideravelmente suas carroças devido ao peso dos sinos.
E em começo de dezembro de 1928 os quatro sinos estavam aqui em Cerro Azul. O Pe. Eduardo Wolter S. J., vigário, mandou fazer uma forte armação de madeira, e, ainda no chão, no pátio da igreja foram pendurados os quatro sinos, como mostra a foto. Assim ficaram por diversos dias para apreciação dos paroquianos. Uma chance única e histórica para ver e apalpar tantos e colossais sinos.
Seguiam também os preparativos e planejamentos, como erguer este peso por dentro das torres. Entre os preparativos surgiu um problema e curiosidade. O sino maior não cabia na entrada da torre, foi necessário alargar a porta.
O sino maior e o sino menor foram colocados na torre do lado esquerdo, e os outros dois sinos, isto é, o segundo e o terceiro em tamanho, foram colocados na torre do lado direito, considerando quem entra na igreja, foram erguidos por dentro das torres, com roldanas.
Arrecadações
Desde a encomendação até a presença real dos sinos no pátio da igreja houve intensa campanha para arrecadar fundos para o custeio. O vigário Pe. Eduardo Wolter S.J, visitou o Sr. Augusto Kliemann, pai do Arno Kliemann, que prestou estas informações. Augusto tinha casa comercial na esquina em diagonal com a praça, a intenção da visita foi para ele conseguir donativos.
A resposta foi pronta e seca "Eu não vou pedir nada", um susto para o padre. Seu Kliemann emendou logo: "Eu vou pagar um sino sozinho", se prontificou pagar o segundo maior sino, no valor de 7.240$000,00 (sete contos e duzentos e quarenta mil réis). No tempo considerado um valor considerável. Surgiu o comentário "Seu Kliemann vai quebrar se cumprir a promessa". Mas cumpriu o compromisso e a loja seguiu forte como sempre.
Na visita ao Dr. Egídio Flach foi muito em recebido e prontamente se dispôs também a pagar um sino sozinho. Pagou o quarto sino, no valor de 2.950$000,00 (dois contos e novecentos e cinquenta mil réis). Dr Egídio Flach é pai do Dr. Otto Flach e do Pio Flach. Estes dois donativos espontâneos e expressivos deram um grande alívio na campanha.
Benção e Leilão dos Padrinhos
No dia 16 de dezembro de 1928 houve a grande festa da igreja. Festa especialmente organizada para benção solene dos quatro sinos. E também para leilão dos padrinhos e madrinhas. Um padrinho e uma madrinha para cada sino.
Do sino maior ficou o padrinho, por leilão o senhor Pedro Eidt e a madrinha, também por leilão a senhora Criselda Eidt, esposa de Pedro Eidt. Do 2° sino maior ficou padrinho o senhor Augusto Kliemann e a madrinha a senhora Carolina Kliemann, ambos são padrinhos naturais, sem leilão, por serem doadores do sino.
O padrinho do 3° sino é o senhor Bernardo Kliemann (pai do Sr. Elói Kliemann), e madrinha a senhora Rosalia Kliemann, esposa de Maurício Back, ambos filhos de Augusto Kliemann.
O Dr. Egídio Flach e Elizabeta Sebastiany Flach (pais do Dr. Otto Flach e Pio Flach), são padrinhos e madrinha naturais, também sem leilão, por serem os doadores do 4° sino.
Nesta festa, além do leilão, cada pessoa ou criança que quisesse dar uma, duas ou três badaladas nos sinos ainda pendurados na armação, ali no pátio, pagava 400 réis ou 1$000,00 (um mil réis), ou 2$000,00 (dois mil réis) ou 3$000,00 (três mil réis). E valeu. Os interessados tiveram que fazer fila para chegar na vez de dar as badaladas. O leilão dos padrinhos rendeu 11.000$000,00 (onze contos de réis).
Primeira badalada do conjunto
Os quatro sinos badalaram todos juntos pela primeira vez, já no seu lugar definitivo no alto das torres, no dia 24 de dezembro de 1928, era véspera de Natal, grande emoção para o povo de Serro Azul. Janelas, praça e pátio da igreja ocupados para escutar a primeira badalada dos sinos.
No arquivo da Paróquia Sagrada Família de Nazaré consta o 1° sino, o maior pesa, 1364 quilos, tem 1 metro e seiscentos e noventa centímetros (1,69 metros). Custou 9.620$000,00 (nove contos e seiscentos e vinte mil réis). O tom está expresso com a letra D = ré.
O 2° sino maior pesa 1.019 quilos, o diâmetro é 1,33 metros, custou 7.240$000,00 (sete contos, duzentos e quarenta mil réis). O tom musical é a letra F = fá.
O 3° sino pesa 831 quilos, tem 1,100 metros de diâmetro, custou 4.473$000,00 (quatro contos, quatrocentos e setenta e três mil réis). O tom é a letra AS = lá sustenido.
O 4° sino pesa 381 quilos, mede 0,96 metros de diâmetro, custou 2.950$000,00 (dois contos, novecentos e cinquenta mil réis). O tom é a letra B = si.
Os quatro sinos juntos pesam 3.353 quilos e custaram 24.285$000,00 (vinte e quatro contos, duzentos e oitenta e cinco mil réis).
A palavra "sino" e também a palavra "sinal" tem sua origem do latim, o sino dá o sinal para missas, cultos e outras celebrações.
O sino anuncia as horas da Ave Maria, tangendo três vezes três badaladas.
O sino dá o sinal tangendo devagar e dolorosamente anuncia o falecimento de uma pessoa:
Com três vezes nove badaladas anuncia o falecimento de uma criança ou jovem;
Com três vezes 12 badaladas anuncia o falecimento de uma senhora;
Com três vezes 15 badaladas anuncia o falecimento de um homem;
E para religiosos são três vezes 18 badaladas.
O sino dá também o sinal de socorro em muitos casos especiais como, por exemplo, na ocasião do incêndio do antigo Seminário São José. Badalando longamente após a meia-noite, pedindo socorro para o seminário em chamas.
Dá o sinal festivo, badalando os quatro sinos para promoções e missas especiais da paróquia, como o Natal, a Meia-noite do Ano Novo, no "Glória" da missa pascoal e outras solenidades.
Nós, da cidade podemos escutar os sinos diariamente, pendurados e escondidos no alto das torres.
Sinto-me feliz em poder apresentar aos leitores do Portal LH Franqui, que pode ser lido no mundo todo, por muitos leitores cerro-larguenses espalhados, este pequeno histórico.
E ainda, pela qualidade e raridade é um orgulho para Cerro Largo, e com certeza os sinos são uma das sete maravilhas do nosso município.