O boletim climático do trimestre abril, maio e junho, elaborado pelos professores da UFFS-Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons apresenta para os próximos meses, para a região das Missões, uma mudança no comportamento das precipitações e das temperaturas do ar. Isso porque o fenômeno La Niña está se desconfigurando (desaparecendo) e as temperaturas da superfície no oceano pacífico tropical já estão próximas da sua normalidade (segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration/NOAA).
Assim, uma condição neutra do fenômeno é esperada para o outono e inverno, e as chuvas deverão começar a ocorrer com mais frequência e intensidade (lentamente) na região, o que deve ocasionar volumes dentro da normalidade climática no próximo trimestre (AMJ).
Entretanto, para abril, a previsão por conjunto dos modelos climáticos ainda estima precipitações ligeiramente abaixo (+- 30mm) da normalidade climática (que é de 194 mm). Para maio as projeções mostram chuvas variando de normal a ligeiramente acima da normalidade climática na região (que é de 169mm); e para junho, a estimativa é que as precipitações permaneçam dentro da média mensal (que é de 133mm).
As precipitações nos meses de verão ocorreram de forma irregular, mal distribuídas na região e, de maneira geral, ficaram abaixo da média nos municípios da região. Essa ocorrência de precipitações localizadas e irregulares, por vezes, em grandes quantidades e observadas em curtos períodos de tempo, fizeram variar o acumulado de chuva na região. Em Cerro Largo ocorreram maiores precipitações no mês de fevereiro (114 mm), ao passo que, na estação da UFFS, em Roque Gonzales, por exemplo, em fevereiro choveu 58mm.
Com relação às temperaturas do ar, os modelos climáticos estimam para os próximos três meses, de maneira geral, um comportamento acima do normal (INMET 1991-2020). Deveremos ter um abril com temperatura média (que é 21ºC), que pode ficar até 2ºC acima do normal, assim como os meses de maio e junho, que segundo os modelos, podem apresentar temperaturas até 1ºC acima da média (que é 17ºC e 16ºC, respectivamente).
A condição meteorológica para o trimestre é crucial para colheita da cultura da soja e definição da produtividade da segunda safra da cultura do milho no Rio Grande do Sul. Também é nesse trimestre que se faz a implantação das lavouras de inverno. A perspectiva de chuvas próximo da média no trimestre traz alívio aos agricultores, que tem no horizonte uma safra de soja frustrada. É possível que um aumento nas chuvas possa beneficiar pelo menos o enchimento de grãos do milho safrinha em nossa região e garantir uma boa condição de implantação das lavouras de inverno, especialmente do trigo. Contudo, o agricultor deve avaliar, em conjunto com o profissional responsável por sua assistência técnica, o melhor momento para a semeadura do trigo e realização das demais atividades de sua propriedade, considerando ainda os próximos prognósticos, quando já haverá um panorama sobre a expectativa de severidade do inverno de 2023 e a ocorrência de geadas, especialmente tardias.
Recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.
(*) O boletim climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão "Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional" coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.