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Publicado em 19/01/2022 19:14:37 • Geral

Ano inicia com adoção internacional de duas irmãs gaúchas

Duas meninas, da Comarca de Cerro Largo, foram adotadas por portugueses
Portugueses Nuno e José adotaram irmãs Larissa e Tauane, da Comarca de Cerro Largo

A vindima é uma tradição portuguesa onde famílias se reúnem para colher das videiras as uvas que serão utilizadas na produção de vinhos. O momento é de união e de festa. Mas, para a família de Nuno Pombal e José Covas, a celebração do ano passado teve um sabor ainda mais especial: nesse dia, o casal português, que estava na fila de adoção desde 2019, recebeu a notícia de que a procura tinha acabado. No Brasil, duas irmãs gaúchas, de 8 e 11 anos, estavam prontas para formar ao lado dos pais portugueses uma nova família. O destino da família agora é a Espanha, onde já residem José e Nuno.

A adoção por famílias estrangeiras só é possível quando crianças/adolescentes foram destituídas do poder familiar e após terem sido esgotadas todas as chances de adoção nacional. Esta é a segunda adoção internacional realizada pela Autoridade Central Estadual do Rio Grande do Sul (ACERS). O órgão do Poder Judiciário funciona desde 2016 e tem por competência fazer cumprir a Convenção de Haia, que regulamenta a adoção internacional. Até então, o processo era realizado pelos Juizados Regionais da Infância e Juventude.

Na videochamada feita na tarde de quinta-feira (13/1) com membros da ACERS, as irmãs Larissa, de 8 anos, e Tauane, de 11, estavam cansadas. Haviam feito uma longa viagem com os pais até a Capital, onde visitaram a Arena do Grêmio e pontos turísticos do Centro Histórico. Com as meninas no colo de cada um, José e Nuno estavam radiantes. "Era algo que queríamos muito na vida. Quando nos conhecemos, o projeto era de ter uma família grande. Quando distribuímos amor, de alguma forma, ele volta para nós", conta José.

A guarda provisória das irmãs foi dada pelo juiz Ramiro Baptista Kalil, da Comarca de Cerro Largo, em 2/12/21. Antes disso, as meninas passaram por um processo de preparação, pela equipe técnica da Comarca de Santo Ângelo. No último dias 10/1, a audiência final chancelou o tão sonhado momento. A família agora passará por acompanhamento social e psicológico pelo período de dois anos. Relatórios semestrais informando sobre a adaptação do grupo serão enviados às autoridades judiciais gaúchas.

Na quinta-feira passada (13), a corregedora-geral da Justiça, desembargadora Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, que também preside a ACERS, a juíza-corregedora Nara Cristina Cano Neumann Saraiva, secretária-executiva da Autoridade Central gaúcha, e a juíza-corregedora coordenadora Cristiane Hoppe, conversaram com os quatro por meio de videoconferência. Participaram também a advogada Ana Maria Medeiros Navarro Santos, representante nacional do Organismo Internacional BRADOPTA, e a assistente social da ACERS, Graziela Milani Leal, que atuaram no processo.

A Corregedora-Geral da Justiça destacou a alegria e a importância do momento. "Quero registrar a satisfação de termos finalizado esse processo, superando os entraves da pandemia". A Desembargadora também cumprimentou Nuno e José, desejando uma família plena de afeto e de carinho. "Que possam construir um lindo lar para essas meninas".

A juíza-corregedora Nara Saraiva conduziu a conversa, destacou os caminhos do processo e a dedicação das equipes envolvidas para concretizar as adoções. Também lembrou que, desde 2011 não eram realizadas adoções internacionais, o que voltou a acontecer em 2020, com quatro irmãos que foram adotados por um casal italiano. Já a juíza-corregedora Cristiane Hoppe relembrou o início da carreira, quando atuava em uma Vara Criminal onde eram realizadas as adoções. "Era sempre um momento muito emocionante", ressaltou.

A advogada Ana Maria Medeiros, que é do Mato Grosso do Sul, disse ter sido a primeira vez que participa de uma adoção fora do estado dela. Destacou que a equipe da ACERS é vocacionada e "leva o princípio constitucional da prioridade absoluta" e também parabenizou o carinho e o cuidado dos pais.

A assistente social Graziela Milani acompanhou todo o processo de adoção das meninas, desde quando elas foram indicadas para adoção internacional. "Desde então, fizemos uma preparação árdua destas meninas e da própria instituição de acolhimento. Fizemos videochamadas, trocamos fotos, cartinhas. O Nuno e o José fizeram um livro lindo de apresentação deles. Foi um trabalho muito fácil porque trabalhamos com pessoas competentes e uma família capaz, cheia de resiliência".

Sabor especial

Nuno lembra que, em outubro do ano passado, recebeu a notícia de que poderiam adotar as irmãs brasileiras. Ele e o companheiro estavam em um hotel, com a família, para celebração da vindima. "Fiquei tão nervoso, que as lágrimas caíram, fiquei andando pelo quarto do hotel. O José ficou tão ou mais atrapalhado que eu. Na hora, não prestamos atenção em nada", relata.

"Foi engraçado porque, assim que recebemos uma foto delas, corri pelo hotel para mostrar aos meus pais. Todos estavam lá. Foi uma notícia em família, mas também uma celebração em família". A viagem para o Brasil foi preparada rapidamente para o importante passo.

Os primeiros encontros foram virtuais e, aos poucos, foram quebrando barreiras e construindo uma aproximação. Quando se conheceram pessoalmente, as meninas correram para abraçar os pais. No Ano Novo, a família já estava junta. Em mais um ritual tradicional, eles comeram 12 uvas que, de acordo com as crianças, simbolizam um desejo para cada mês do ano. Depois, saltaram na piscina. Seja lá o que pediram, pelo menos um desejo de Larissa, Tauane, José e Nuno nós já sabemos que se concretizou: o sonho de uma família.

 

NOTA DA REDAÇÃO: Foto e nomes das meninas divulgados com expressa autorização.

 

Fonte: Janine Souza / TJ RS
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