Nos dias 27 e 28 de fevereiro foi realizado, em Chapecó (SC), o seminário de lançamento e capacitação da equipe técnica do Programa de Formação Continuada para Profissionais da Educação Básica na Perspectiva da Educação Integral em Tempo Integral, que atuará nos três estados da região Sul do Brasil. Fazem parte da equipe, técnicos e docentes de todos os campi da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), assim como colaboradores externos. Estão envolvidas cerca de 120 pessoas, somente na equipe técnica, deste que é um dos maiores programas já realizados pela Universidade.
Em cada uma das regiões do país uma universidade federal ficou responsável pela coordenação do curso de formação, na região sul este papel coube a UFFS. "Temos consciência que coordenar este programa de formação em toda a região sul é um grande desafio, pois envolve a formação de cerca de 3 mil pessoas, entre gestores e técnicos municipais da educação básica de toda a região. Além de um grande desafio, é um grande responsabilidade, uma vez que essa formação tem a intenção de preparar a implantação da Escola em Tempo Integral, conforme determina a Lei n° 14.640/2023 e, portanto, o sucesso dessa política pública, na região sul ao menos, começa com o sucesso do trabalho coordenado pela UFFS”, comenta o reitor da UFFS, João Alfredo Braida.
"Sabemos desta responsabilidade, mas estamos tranquilos, pois a UFFS, em sua curta história, acumulou experiências na área, já que uma das missões da UFFS é contribuir para a mudança da realidade educacional da região, por isso investimos fortemente em cursos de formação, inicial e continuada, de professores da educação básica. Além disso, o programa de formação se constitui em uma ótima oportunidade de aproximação e integração de nossos servidores, em especial de docentes que atuam em diferentes cursos e campi da Universidade, com ganhos significativos para a qualificação do trabalho que já fazemos e potencializando a construção de novos projetos e programas de ensino, pesquisa e extensão", completa o reitor.
As inscrições para o curso foram abertas na segunda-feira, dia 4 de março, pelo sistema SIMEC, e serão disponibilizadas até duas vagas por secretaria de educação. A formação terá carga horária de 100 horas e será composta por cinco módulos, com previsão de início em abril. Além de conteúdo escrito, os participantes terão acesso a webnários e participarão em atividades realizadas por meio da plataforma Moodle.
No seminário realizado na semana passada, os membros da equipe técnica se encontraram pela primeira vez e tiveram a oportunidade de conhecer as linhas gerais do curso de formação e ser orientados sobre os procedimentos administrativos do programa. Também houve momentos formativos ao longo dos dois dias de evento. Elisângela Ribas, da equipe de Design Instrucional, falou sobre o design dos ambientes de aprendizagem, e Jefferson Caramori, da equipe de TI, sobre a plataforma Moodle.
Os coordenadores de formação Jaqueline Moll, Juares Thiesen e Natacha Costa também realizaram momentos formativos com a equipe técnica, falando sobre as especificidades da educação integral. Entre os momentos formativos, as equipes de apoio pedagógico, de TI e Design Instrucional, de Comunicação, de Coordenação Administrativa e de Coordenação Pedagógica tiveram reuniões setoriais para debater e definir detalhes a respeito de suas atuações no programa, que posteriormente foram apresentados para todo o grupo.
A coordenadora de Projetos de Educação Integral e Tempo Integral do Ministério da Educação, Aline Zero, fez a conferência de abertura do evento. Em sua fala, disse que o Brasil ainda está distante da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), de 25% dos estudantes e 50% das escolas em tempo integral, no entanto, considera que a sanção da Lei n° 14.640, de 31 de julho de 2023, que instituiu o Programa Escola em Tempo Integral, é um grande avanço não apenas no sentido de ampliar a oferta de escolas em tempo integral, mas também melhorar a qualidade da educação.
De acordo com Aline, o objetivo do MEC é atingir 3,2 milhões de matrículas em tempo integral até 2026. Para isso, devem ser investidos R$ 4 bilhões por ciclo. O primeiro ciclo, posterior à sanção da lei, teve mais de um milhão de matrículas pactuadas com os municípios. A primeira parcela de recursos já foi repassada às prefeituras. Os valores devem ser destinados à melhoria das condições para a oferta do tempo integral.
Os municípios que aderiram ao programa têm até o dia 6 de maio para informar ao MEC a declaração de matrículas e apresentar as suas políticas para a oferta da educação em tempo integral. Neste sentido, o curso de formação tem entre seus objetivos contribuir para que os gestores tenham uma base de conhecimento sobre o tema para auxiliar na elaboração destas políticas.
A professora Jaqueline Moll, considerada uma referência nacional quando o assunto é educação integral, foi ministrante de um dos momentos formativos do evento e será uma das coordenadoras de formação do curso na região Sul. Segundo ela, o Brasil tem sido falho no trabalho com a educação integral, mas com a sanção da Lei n° 14.640 se está diante de uma oportunidade histórica para mudar os rumos da educação no país. "A educação integral não é uma modalidade da educação, não é uma metodologia, é outro nome para educação pública de qualidade", afirma Jaqueline.
De acordo com o professor Juares Thiesen, que também atuará como coordenador de formação do curso, a educação integral "tem uma dimensão profundamente interdisciplinar", que tem como finalidade a formação humana integral. Ele destaca que a educação é um investimento que depende de vontade política e deve ser um projeto de estado, caso contrário, se perde, como ocorreu em Santa Catarina, que chegou a ter 120 escolas em tempo integral, mas atualmente está muito distante deste montante.
A coordenadora de formação Natacha Costa trouxe o exemplo da Escola Municipal Professor Waldir Garcia, de Manaus, para enfatizar a perspectiva inclusiva da escola em tempo integral. Lá os estudantes estrangeiros e suas famílias são totalmente integrados à vida escolar. Para ela, "um projeto de educação reflete um projeto de sociedade. Qual é o nosso projeto de sociedade? Que projeto de formação nos move?", questiona.
A Universidade Federal da Bahia (UFBA) esteve representada no evento pela professora Claudia Santos. Para ela, a educação precisa ser pensada e construída de maneira democrática e participativa. Com orgulho, a professora relatou a experiência exitosa do Comitê Territorial Bahiano de Educação Integral, que integra 27 territórios de identidade. Segundo ela, com o auxílio da entidade, quase todos os municípios da Bahia têm ao menos uma escola de educação integral. A partir do comitê também surgiu a ideia do Observatório Nacional da Educação Integral.
Do município de Três Cachoeiras, no Rio Grande do Sul, a professora Adriane Lipert Bittencourt, coordenadora de formação do curso, trouxe a experiência da Escola Municipal Dom José Baréa, que implantou o ensino integral por iniciativa dos próprios professores com ajuda da comunidade. Conforme ela, muitos são os desafios, entre eles a promoção de uma mentalidade inclusiva, especialmente entre os professores. Apesar de tudo, para a professora, "a educação integral é o caminho".
A experiência dos municípios da região da Associação de Municípios do Oeste de Santa Catarina (AMOSC) foi trazia pela professora Locenir Tereza de Moura Selivan, também coordenadora de formação do curso. Ela relatou as dificuldades enfrentadas, em especial pelos pequenos municípios, que carecem de pessoal para atuar na gestão da educação. Pensando nisso, foi formado o Comitê Regional de Educação Integral, que está elaborando uma minuta de política de tempo integral para auxiliar os municípios na elaboração de suas próprias políticas. Professores da UFFS integram o comitê.
O evento da UFFS foi finalizado com o webinário de lançamento do curso de formação para todo o país, realizado pelo MEC por videoconferência. Estiveram presentes como convidados representantes das cinco universidades parceiras, UFFS, Universidade Federal de Goiás (UFGO), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).