O boletim climático do trimestre julho, agosto e setembro, elaborado pelos professores da UFFS-Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons apresenta para os próximos meses para a região das Missões, previsão de precipitações com volumes variando de normal a acima do normal.
As condições atuais das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical apresentam temperaturas acima da média nas últimas semanas (TSM: 0,9oC, figura 1), com comportamento compatível com o fenômeno climático El Niño (fraco, quando a Temperatura das águas está um pouco mais quente que normal).
Segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration (NOAA), a tendência é de aumentar esse aquecimento (das águas), especialmente, no segundo semestre de 2023 - se mantendo assim, até o início de 2024 -, o que classificaria o fenômeno entre a classe moderada a forte e trazendo volumes de chuvas bastante expressivos na região, a partir do mês de setembro.
Assim, a previsão por conjunto dos modelos climáticos estima precipitações ainda, ligeiramente abaixo da normalidade para o mês de julho (cuja precipitação média é 133 mm). Para agosto as projeções mostram chuvas dentro do padrão normal na região das missões (que é de 124 mm); e para setembro, a estimativa é de que as precipitações fiquem acima da média mensal (que é de 105 mm). As precipitações nos meses anteriores ocorreram de forma irregular e mal distribuídas na região. De modo geral, ficaram abaixo da média nos municípios missioneiros (Figura). Essa ocorrência de precipitações localizadas e irregulares, por vezes, em grandes quantidades e observadas em curtos períodos de tempo, fizeram variar o acumulado de chuva na região. Em Cerro Largo ocorreram maiores precipitações no mês de fevereiro (114 mm), ao passo que, na estação da UFFS, em Roque Gonzales, por exemplo, em fevereiro choveu 58mm.
Com relação às temperaturas os modelos climáticos estimam para os próximos três meses, de maneira geral, um comportamento acima da média. Deveremos ter um julho e agosto com temperaturas do ar médias (11 oC e 12 oC), que podem ficar até 1ºC acima do normal. Para o mês de setembro, a temperatura média pode ficar até 2ºC acima do normal, portanto, deve ser o mês mais quente do trimestre. A temperatura do ar observada, aliás, vem apresentando valores médios mensais maiores que a média esperada para o mês, desde fevereiro de 2023. Ou seja, na média, os meses têm sido mais quentes que o normal. A exceção foi o mês de abril, quando a temperatura do ar média mensal observada na estação foi 0,4oC menor que a climatologia
A condição meteorológica para o trimestre é crucial para colheita da cultura da soja e definição da produtividade da segunda safra da cultura do milho no Rio Grande do Sul. Também é nesse trimestre que se faz a implantação das lavouras de inverno. A perspectiva de chuvas próximo da média no trimestre traz alívio aos agricultores, que tem no horizonte uma safra de soja frustrada. É possível que um aumento nas chuvas possa beneficiar pelo menos o enchimento de grãos do milho safrinha em nossa região e garantir uma boa condição de implantação das lavouras de inverno, especialmente do trigo. Contudo, o agricultor deve avaliar, em conjunto com o profissional responsável por sua assistência técnica, o melhor momento para a semeadura do trigo e realização das demais atividades de sua propriedade, considerando ainda os próximos prognósticos, quando já haverá um panorama sobre a expectativa de severidade do inverno de 2023 e a ocorrência de geadas, especialmente tardias.
Recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.
(*) O boletim climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão "Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional" coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.