Centenas de garrafas de vinho com cerca de cinco mil anos foram descobertas no último mês na necrópolis Umel Caab, na cidade de Abydos, no Egito, por um time de arqueólogos da Alemanha e da Áustria ligados à Universidade de Viena.
Segundo os pesquisadores, as garrafas estavam "bem preservadas", com algumas ainda seladas e em seu estado original, no túmulo da rainha Meret-Neith. Ela não só era a mulher mais poderosa de seu tempo — cerca de 3 mil a.C. —, como também a primeira mulher faraó de todo o Egito Antigo, ainda na Primeira Dinastia. Cleópatra, a mais famosa delas, foi a última governante da 33ª Dinastia, a Ptolomaica, só para efeito de comparação.
Junto ao vinho também foram achadas sementes de uva. "A descoberta tem o potencial de significativamente expandir nosso entendimento de uma das mais antigas produções de vinho, consumo e comércio no Mediterrâneo Antigo e norte da África", acredita Emlyn Dodd, docente do Instituto de Estudos Clássicos, uma entidade de pesquisa associada à Universidade de Londres, no Reino Unido.
À revista Newseek, a especialista — que não fez parte da missão arqueológica no vale do Nilo — explicou que o vinho encontrado foi produzido em uma época "chave", em que o conhecimento sobre como fazer a bebida e cultivar vinhedos começava a se espalhar do seu provável local de origem, na região entre Geórgia, Armênia e Irã, para outros pontos que incluem o território egípcio.
Por isso, de acordo com Emlyn Dodd, descobertas tão antigas e em bom estado de preservação no Egito são "raras".
"Análise dos resíduos encontrados dentro das jarras, por exemplo, pode iluminar a composição química do vinho que esteve lá dentro, revelando seu perfil de sabor e quaisquer aditivos que foram usados — por exemplo, romanos frequentemente adicionavam temperos, mel e água do mar, entre outros aromatizantes", ensina.
O time de estudiosos, que inclui membros do Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito, do Instituto Arqueológico Alemão no Cairo, da Universidade de Viena e da Universidade de Tecnologia de Viena, ambas na Áustria, e da Universidade de Lund, na Suécia, não deu vastos detalhes sobre o estado do vinho encontrado, mas o descreveu apenas como "resquícios" da bebida.
Apesar de raro, este não seria o vinho mais antigo do mundo.
O recorde pertence também a resquícios que teriam sido fabricados em torno de 6.000 a.C., na Geórgia, encontrados em 2017.
Já o vinho ainda líquido mais antigo do mundo foi produzido no Império Romano em torno do ano 325 d.C. — e, encontrado em um sarcófago na Alemanha, segue intocado em sua garrafa no Museu Histórico do Palatinado em Speyer.
Ainda foram localizados no complexo as tumbas de outros 41 membros da corte e serviçais da rainha, além de sua própria câmara funerária, construída em tijolos de barro, argila e madeira.
Foram determinadas evidências de que os enterros aconteceram em fases diferentes de construção, durante um longo período de tempo, o que desafia a ideia de que sacrifícios humanos de sua corte eram parte dos enterros reais da Primeira Dinastia, uma teoria nunca comprovada até então.