Governador Eduardo Leite (PSDB) classificou os temporais que iniciaram em 29 de abril como o 'maior desastre do estado'. Em setembro de 2023, no Vale do Taquari, 54 pessoas morreram em decorrência das cheias
Em menos de um ano, quatro desastres climáticos atingiram o Rio Grande do Sul. Em 2023, três eventos ocorreram em junho, setembro e novembro, deixando 75 mortos. De acordo com especialistas, as causas das tragédias se diferenciam desta, que já deixou 32 mortos e 60 desaparecidos até o início desta sexta-feira (3/5).
Além dos mortos e desaparecidos, 36 pessoas ficaram feridas. A Defesa Civil soma cerca de 14,8 mil pessoas fora de casa, sendo 4.645 pessoas em abrigos e 10.242 desalojados (na casa de familiares ou amigos). Ao todo, 154 dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 71,3 mil pessoas.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) afirma que o evento ocorrido entre os dias 15 e 16 de junho de 2023 no Rio Grande do Sul foi um ciclone extratropical. O desastre teria vitimado afetado 2 milhões de pessoas, deixando 3,2 mil pessoas desabrigadas e 4,3 mil desalojadas com destruição em mais de 40 cidades. Com a subida repentina da água dos rios, pessoas morreram afogadas nas próprias casas.
As causas da tragédia que vitimou 16 pessoas foram um mês com calor acima do normal, acompanhado da chegada de uma frente fria, de acordo com o chefe do Departamento de Geografia da UFRGS, professor Francisco Eliseu Aquino. As áreas mais afetadas foram a Região Metropolitana, Litoral Norte e parte da Serra.
"O ar frio tenta se expandir em direção à região sul tropical, por exemplo, o Rio Grande do Sul. Porém, nós tivemos o maio mais quente para toda a América do Sul em 170 anos. Significa que o contraste dessa massa de ar frio entre a Antártica e a região tropical da América do Sul promove a formação de um ciclone extratropical", explica o especialista.
As enchentes que deixaram 54 mortos no RS em setembro de 2023. O episódio foi considerado o maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul até aquele período e afetou especialmente o Vale do Taquari. O fenômeno teve origem no dia 4 de setembro de 2023, a partir de um sistema de baixa pressão vindo do Paraguai. Até o momento, há quatro desaparecidos.
De acordo com o meteorologista da Climatempo, Gabriel Borges, há uma diferença entre o fenômeno visto em setembro e o desta semana. O de 2023 ocorreu a partir de um ciclone extratropical e as chuvas caíram de forma muito concentrada e rápida, com fortes rajadas de vento; diferente de agora, em que há a persistência da chuva.
"O ciclone que aconteceu em setembro foi mais potente porque se concentrou mais sobre o continente, ele passou muito próximo, ele passou sobre as regiões do Rio Grande do Sul, se sentou sobre a costa, ganhou intensidade, formou frente fria. Então, todo o processo de formação daquele ciclone foi muito forte'" revela.
Dois meses após o episódio que devastou o Vale do Taquari, grandes volumes de chuva vitimaram cinco pessoas. Ao menos 28 mil pessoas precisaram deixar as residências a partir de 17 de novembro. Os transtornos ocorreram especialmente próximos ao Rio Taquari, na Serra e Região Metropolitana de Porto Alegre.
De acordo com a responsável técnica pelo Núcleo de Informação Meteorológicas da Univates, Maria Angélica Gonçalves, esse evento climático está associado a sucessivas áreas de instabilidade e a passagem de frentes frias, que provocaram chuvas um pouco mais brandas.
"Mais uma vez o Vale foi afetado por cheias, já marcado por eventos de chuva excessiva, como nos meses de junho e setembro. Sem dúvida esses eventos são uma consequência do fenômeno El Niño que atuou em parte de 2023 e está atuando ainda no mês de maio de 2024", afirma.
Os temporais que atingem o Rio Grande do Sul desde (29/5) já deixaram 32 pessoas mortas, segundo dados da Defesa Civil acrescida de órgãos locais, como Corpo de Bombeiros, prefeituras e Brigada Militar. As áreas mais atingidas são as regiões Central, dos Vales, Serra e Metropolitana de Porto Alegre
Há 60 desaparecidos e 14,8 mil pessoas fora de casa, sendo 4.645 pessoas em abrigos e 10.242 desalojados. Dos 496 municípios do estado, 154 registraram algum tipo de transtorno.
Maria Angélica Gonçalves revela que o evento de maio "pode ser o maior evento de cheia do Vale, ultrapassando a de 1941 e 2023". Isso pois há a tendência de chover até o próximo sábado (4). Ela afirma que uma sucessão de fatores contribuem para a formação da chuva extrema.
Ela pontua que, em primeiro, há o bloqueio de ar quente no centro do Brasil, que impede a chegada das frentes frias em direção ao Sudeste. Com isso, as frentes frias permanecem sobre a Região Central do estado e os Vales, sendo alimentadas incessantemente pelo fluxo de umidade que vem da Região Amazônia.
"[Teremos] volumes muito elevados. Para sexta-feira (3), a gente deve ter o nosso mais alto grau de alerta classificado aqui na Climatempo, que é o perigo extremo, onde a quantidade de chuva pode passar dos 100 milímetros em 24 horas", diz Gabriel Borges.