O boletim climático do trimestre Maio-Junho-Julho, elaborado pelos professores da UFFS-Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons apresenta a presença do fenômeno La Niña (região do Niño 3.4), com Temperatura da Superfície do Mar (TSM) mais fria que o normal. As precipitações no mês de março e abril ficaram acima da média nas Missões, na grande maioria dos municípios (Figura), ocorrendo de forma bastante expressiva, em algumas localidades. Em São Luiz Gonzaga foi observado o maior acumulado mensal, atingindo cerca de 2,5 vezes o valor normal para o mês.
As últimas observações dos modelos climáticos mantêm a influência da La Niña para todo o trimestre (e para o inverno), e, além disso, mostraram que o fenômeno apresentou um fortalecimento nas últimas quatro semanas. Assim, segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration (NOAA), há uma probabilidade de 60% de continuidade do fenômeno nos meses de junho a agosto e de 50 a 55% de continuidade também na primavera. A estimativa para o trimestre Maio-Junho-Julho é a continuação de precipitações com grandes acumulados de chuva em um curto período de tempo. Para maio e junho, os modelos estimam chuvas dentro da normalidade climática (169 mm e 130mm, respectivamente). Para julho, as projeções mostram chuvas levemente abaixo do normal para o mês (100mm), considerando a média climatológica INMET 1991-2020 (São Luiz Gonzaga).
Com relação às temperaturas médias, notou-se que o mês de abril foi ligeiramente mais quente que a média (o esperado para o mês era de 23,8ºC), com temperaturas ao longo da tarde alcançando 43ºC na cidade de Porto Xavier. Ainda, vários municípios ultrapassaram a marca dos 40ºC (São Luiz Gonzaga, Cerro Largo/centro, Roque Gonzales, Guarani das Missões e Caibaté). O valor mínimo de temperatura registrado foi 12ºC, na cidade de Santo Ângelo. Os modelos climáticos estimam, de maneira geral, para o trimestre Maio-Junho-Julho, um comportamento de temperatura do ar dentro da normalidade. Para maio, as temperaturas devem ficar na média esperada para o mês (17ºC); junho, as temperaturas devem ficar mais baixas que o normal (1ºC mais frio que o normal: 12ºC); e, para julho, a previsão climática indica comportamento de temperaturas dentro do esperado para o mês (11ºC), segundo a climatologia INMET/São Luiz Gonzaga/1991-2020.
A condição meteorológica no trimestre é muito importante para implantação da safra dos cultivos de inverno, especialmente da cultura do trigo no Rio Grande do Sul. No verão, a ocorrência de chuvas foi geralmente abaixo da média e mal distribuídas, tanto no tempo quanto no espaço. Essas chuvas ocorreram de maneira concentrada em alguns dias, ocasionando graves períodos de estiagem em toda a região, apesar de já ser ter uma melhora em relação ao trimestre anterior. As lavouras de milho (safrinha) estão atrasadas e finalizando seu ciclo, em função do período de estiagem que dificultou a implantação das lavouras. Por isso, é importante que não ocorram geadas precoces e que se tenha janelas de tempo seco, que possibilitem a ensilagem ou a colheita.
Em relação à cultura do trigo, poucas lavouras foram implantadas até o momento. O fenômeno La Niña e os prognósticos indicam potencial para rendimentos razoáveis, caso se confirmem. Com a valorização do trigo, é possível que os agricultores compensem ao menos parte dos prejuízos sofridos na safra de verão. Entretanto, salienta-se que esta cultura é de alto risco climático, especialmente em função de sua susceptibilidade a geadas, chuvas intensas e ventos, especialmente na fase reprodutiva. Ainda é muito cedo para se ter previsão das condições nessa fase da cultura, que tipicamente ocorre entre os meses de agosto e setembro. Recomenda-se que o seu cultivo seja salvaguardado por políticas de seguro agrícola.
Além disso, recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.
**O boletim climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional, coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.