Ontem, 19 de abril, data em que foi comemorado o Dia dos Povos Indígenas, a Trilha da Integração Guarani-Jesuítica de Roque Gonzales inaugurou Estátua de Nheçu, o principal líder indígena guarani do século XVII, na atual região das Missões.
O prefeito Fernando Mattes Machry e o vice-prefeito José Alfredo Kupske, receberam o presidente da AMM e prefeito de Pirapó Auri Brandt Kochhann, que escalaram o Cerro do Inhacurutum para participar da cerimônia, que também contou com a presença de membros da Trilha da Integração Guarani-Jesuítica, Associação Cultural Nheçuanos, Escolas Municipais São José do Sobrado e Santo Antônio de Pádua, moradores da Linha Inhacurutum e imprensa local.
NESURETUGUE
"Terra que foi de Ñezú", local tão significativo para o imaginário popular local e regional, onde foi inaugurada a estátua, será um marco e um monumento à figura do cacique e pajé Nheçu, admirável liderança indígena e importante personagem da primeira fase da História Jesuítica.
REVERÊNCIA
De acordo com o professor, historiador e mestre Josnei Weber, "Ñezú, ou Nheçú, celebrado como a ‘Reverência’ pelos seus, foi uma importante liderança política e religiosa, sendo autoridade máxima para os nativos Guarani M’bya que habitavam o território que atualmente compõem grande parte da região das Missões no Rio Grande do Sul. Do alto do Cerro do Inhacurutum, local privilegiado para observação, Nheçú poderia colher informações e acompanhar as movimentações no 'nesuretugue', ou seja, nos territórios sob seus domínios".
"Hábil orador e mestre das artes místicas, é considerado o principal líder de um dos primeiros movimentos indígenas de resistência ao processo de aculturação europeia que estava em curso por meio das experiências reducionais dos Jesuítas nesta região e que culminou com a morte e martírio dos padres jesuítas Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e João de Castilho em 1628", salienta Weber.
O professor ressalta que "em consequência do martírio, foram anos, para não dizer séculos, de ostracismo e reclusão histórica impostas a este pioneiro da resistência indígena nos territórios que hoje compõem o Rio Grande do Sul".
"A historiografia oficial o negligenciou por tempo de mais. Chegou a hora de reverenciá-lo, tal qual os guarani do seu tempo faziam. Reverenciar Nheçú, com este monumento no alto do Cerro do Inhacurutum, não significa, de modo algum, tomar partido e ‘absolvê-lo’ das decisões a ele atribuídas pela historiografia e que, ao fim, confluíram na morte e martírio dos padres jesuítas. Por outro lado, da mesma forma, ao eternizarmos a figura de Nheçú como pioneiro da resistência indígena no atual território do Rio Grande do Sul, e dizer que sua rebelião foi em defesa do ‘modo de ser antigo’ não é idealizá-lo nem torná-lo um mártir da cultura guarani, mas sim, de outra forma, significa situá-lo como sujeito histórico do seu tempo envolto no interior de um conflito de poder provocado pelas profundas transformações em curso na América e em especial no ‘modo de ser’ guarani", destaca Josnei.
"A estátua de Ñezú, no alto do Cerro do Inhacurutum, mantém acesa a chama que alimenta a alma nheçuana", finaliza o professor e historiador roque-gonzalense.