


A função do professor se caracteriza na ação do 'ensinar e aprender', legitimada pelo conhecimento e pelo saber. Para Carlos Garcia Marcelo (2009), o professor tem compromisso de transformar conhecimento e saber em possibilidades de aprendizagens relevantes para o aluno. E é o que se tem visto: professores se esforçando para continuarem aprendendo e podendo ensinar. Buscando, na verdade, promover ações docentes que contemplem o ato de 'ensinar e aprender', na sua amplitude e complexidade.
No curso normal de um ano letivo, as ações dos professores eram lembradas de forma mais intensa, no mês de outubro. Mais precisamente, na semana do dia 15, com homenagens dos alunos, considerações de pais, deferência do comércio local, entre outras formas que sugerem reconhecimento.
Já em tempos de pandemia da Covid-19, essa prática de demonstrar consideração tende a aparecer (re)inventada, assim como se re(inventaram) as ações cotidianas e as interações entre os sujeitos escolares. Afinal, não foi o professor que, primeiro, se (re)constituiu educador, para dar conta do ensino remoto? O professor precisou enfrentar o desafio, buscando entender e aprender a usar os recursos digitais do novo modelo; a estabelecer a comunicação - que precisava de relação de proximidade, mesmo à distância; a auxiliar na construção do conhecimento e do saber, neste espaço novo de aulas virtuais.
E não foi o professor que, logo depois, ofereceu suporte aos pais, para o apoio aos filhos, na aprendizagem em casa? O professor precisou entender a importância de alargar o sentimento de parceria, já existente, para que o que era considerado difícil, fosse dado como um tanto mais fácil. Precisou, assim, aprender, junto com a família, a melhor maneira de ajudar o aluno a realizar tarefas à distância, a assistir às aulas em rotina de isolamento, a lidar com as dificuldades e demandas que o ensino em afastamento físico compreendeu.
O professor iniciou este esforço conjunto e de coparticipação da escola e da família, neste tempo confuso. Este professor é um educador de sala de aula, ou um gestor de escola, pertencente à rede municipal, estadual ou privada de ensino. E nada por que passou, neste período de pandemia que se alonga, lhe representou caminho fácil: teve demanda de trabalho aumentada consideravelmente, abriu mão de horas de lazer e convivência familiar, deu-se conta de que precisava se adaptar e continuar trabalhando, acentuando eficiência e produtividade.
Nesta Semana do Professor, o interesse que se tem é reafirmar o que a data sugere: o reconhecimento da profissão e da sua atuação. É justo homenagear este profissional que tem, conforme expõe a professora e pesquisadora em Orientação Educacional, Mirian Grinspun (2011), entre tantas funções, as de dar atenção ao desenvolvimento social do aluno; ajudar para que aprimore suas habilidades e competências; promover a construção da aprendizagem e da disciplina; levar a estabelecer relações e a compreender a forma de organização da sociedade, incentivando à consciência, à interatividade e à convivência com qualidade democrática.
Ouvir professoras das três redes de ensino significou dar voz às impressões a respeito de seu fazer docente, nestes seis meses. E dar voz significou que a memória docente tem importância e institui identidade, define concepções, enfatiza esse lugar - que não é somente o que professor ocupa, mas ao qual ele pertence.
Em entrevista com a professora Silvana Maria Klein, que trabalha com os níveis fundamental e médio, na rede estadual de ensino, a forma on line de efetivo trabalho escolar, da educação à distância no nível médio foi destacada: "as aulas do Ensino Médio, durante a pandemia, estão sendo dadas através do canal Classroom, onde postamos as atividades dentro das salas. Cada turma possui sua sala individual. E, também, por meio do Meet, que é onde nos encontramos on line com os alunos, de uma forma conjunta, para esclarecermos as dúvidas, corrigirmos as atividades. Há possibilidades de fazermos testes orais. Este é o meio de ver e falar com os alunos".
Em nível de Educação Infantil, a tecnologia e a privação ao convívio escolar representaram, para muitos professores, dificuldades a serem enfrentadas. As crianças precisaram permanecer em casa, e passaram a viver um contexto distanciado das necessidades pedagógicas desta fase da vida: de interação social, de experiências concretas, de expressão do movimento em espaço escolar.
A professora Priscila Padilha da Luz trabalha na rede municipal de ensino, como professora da Educação Infantil e, perguntada sobre as mudanças e impactos, neste tempo de pandemia, às crianças explicou: "acho que a principal mudança é o contato físico com as crianças. Elas são pequenas e dependem de uma adaptação para se sentirem acolhidas, atendidas. Elas necessitam do convívio diário e de uma rotina para se sentirem seguras e cuidadas pelos professores e demais profissionais da Educação Infantil, como acontece na creche, por exemplo. E a presença física é fundamental, mesmo porque a aprendizagem, nessa fase da infância, acontece através de interações e brincadeiras entre as crianças, os adultos e seus pares".
Segundo a professora Priscila, a mudança impactou, ainda, às famílias, aos professores e demais profissionais que trabalham com a educação infantil, principalmente em se tratando da atuação mediada por recursos tecnológicos, como celulares, computadores, plataformas digitais e redes sociais: "causou grande impacto na prática pedagógica, pois não estávamos habituados a lidar exclusivamente com esta metodologia. Mesmo tendo participado de vários momentos de formação para a capacitação dos profissionais de educação nesta área, ainda há uma grande caminhada para ser percorrida, neste sentido. Esta mediação pode ser, sim, uma ferramenta a mais de interação. Mas não substitui o convívio diário com os pequenos e com os maiores também".
A professora trabalha, também, na rede estadual de ensino, com alunos das séries iniciais do ensino fundamental e acredita que a pandemia da Covid-19 expôs a atuação dos professores e os colocou à prova, mais uma vez: "o educador, por sua natureza, é alguém que está em constante processo de aprendizagem. Sempre é preciso estar aprendendo para ensinar, até porque aprendemos ensinando e, ensinando, também aprendemos. Mas foi preciso ampliar bastante nossos conhecimentos, para darmos conta dessa educação remota".
A autonomia implícita no ensino à distância foi um dos moderadores, no ensino fundamental. Pais e filhos estiveram mais próximos, nestes seis meses - e estarão, por um tempo, ainda -, mesmo que sobrecarregados, combinando trabalho, afazeres domésticos e momento de ajuda nas tarefas de escola.
Para passar este tempo de estudos, o aluno precisou estar aprendendo, mesmo que em casa. Teve que organizar-se em programa de estudos e estar conectado ao conhecimento e às pessoas, via internet. Em entrevista, a professora Bernadete Thum, diretora de escola estadual, expôs, sobre os prós e contras do ensino remoto: "as crianças estão seguras em casa e, quanto à aprendizagem, depende muito do esforço de cada um, mas nada substitui o ensino presencial. Ele serve como um bom aliado nesse processo".
A dinâmica de interação on line com os alunos aportou com novas exigências aos profissionais da educação. Segundo a diretora Bernadete: "os professores tiveram o seu trabalho triplicado. Além desse novo desafio de preparar aulas online, são inúmeros os relatórios que precisam preencher. Associado a isso, foram horas e horas de formação. Sobre a carga horária, no início, não tínhamos mais horário de descanso, nem final de semana. Depois, fomos nos adaptando. Mas ainda assim, temos professores que atendem alunos fora do horário, usando seus equipamentos e internet própria, para trabalhar".
Também, expôs sobre outras dificuldades, relacionadas à realização das tarefas de casa, bem como à impossibilidade de os pais acompanharem seus filhos nos estudos: "muitos têm aparelho de celular com internet, mas a utilizam para jogos on line. Os pais não conseguem nos ajudar nesse sentido, pois trabalham fora o dia todo. Outros pais entenderam que o ano está perdido. Temos muitos alunos com atraso na devolução das tarefas. Muitos estão desmotivados, sentindo falta da rotina da escola".
E finalizou que o planejamento do término do ano letivo, da rede estadual, ainda não está informado. Uma provável reunião com a coordenação da 14ª Coordenadoria de Educação, deverá ser marcada, para os devidos esclarecimentos aos diretores.
Na entrevista com a professora Simoni Priesnitz Friedrich, diretora de escola privada foi ressaltado que muitos foram os desafios enfrentados neste estado de calamidade pública. Primeiro, foram destinadas atividades domiciliares via Portal do Aluno e, depois, pelo Classroom. "Com a adesão a este aplicativo aumentou a interação estudante/professor, escola/família, fortificando os laços e aumentando a parceria", relatou. E acrescentou, que o início das atividades compreendeu maiores dificuldades, relacionadas a acesso e realização de atividades on line. Neste caso, atividades impressas foram destinadas às famílias, que retornaram via rede social, ou foram entregues fisicamente. Também, considerou: "esse período de distanciamento social trouxe muita aprendizagem aos estudantes e, também, aos professores, descobertas de talentos que estavam guardados e foram revelados nos vídeos, nos meets, nas brincadeiras, ou seja, nas diversas maneiras de ensinar e aprender. Aos professores, coube a reinvenção do ensinar e aos estudantes a do aprender, compreendendo que as tecnologias são ótimas aliadas à aprendizagem".
E o futuro próximo? O Ministério da Educação (ME) compreende que as redes públicas (municipal e estadual) e a rede privada vêm transparecendo compromisso e responsabilidade no seguimento ao decreto e na adoção de medidas que atendem ao direito de aprendizagem do aluno, nos diferentes níveis. Essa forma dinâmica de lida do professor com a educação à distância é colaboradora para que se preserve a qualidade de ensino. E é assim que os professores esperam que as soluções - em colaboração e cooperação -, da parte do ME para com as escolas, sejam empreendedoras, também.
Neste tempo que se espera passageiro, ouvir as professoras das três redes de ensino significou, assim, lembrar, na Semana do Professor, um alinhamento necessário: valorizar o professor que, até aqui, trabalhou redobrado; que venceu dificuldades; que (re)organizou o planejamento anual; que agregou dedicação ao uso de plataformas e estratégias de ensino à distância; que teve que aprender como fornecer os conteúdos e como validar o que foi aplicado; que esteve ao vivo no Google Classroom, em grupos de Whatsapp e nos demais locais de acesso. Na verdade, é importante valorizar o professor que não se sentiu abandonado e que, por vezes, com a saúde abalada, não se mostrou desistindo, porque teve os pais do seu lado, nesta difícil tarefa de 'ensinar e aprender'. E teve os alunos compreendendo sobre a importância de realizar as suas atividades, interagir com os professores, ter responsabilidade e interesse em adaptar a sua rotina à nova forma que leva ao aprendizado.