O Boletim Climático do trimestre agosto-setembro-outubro, elaborado pelos professores da UFFS-Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons mostra que condição favorável à neutralidade climática (sem a influência de El Niño ou La Niña) ainda permanece no Oceano Pacífico Equatorial (Niño 3.4).
Nas últimas quatro semanas, a anomalia negativa de temperatura das águas (TSM) do Oceano Pacífico Equatorial se manteve na faixa dos -0.3ºC (mais fria que o normal), ainda tendendo à diminuição nos próximos meses, configurando, assim, o fenômeno La Niña (fraco). A TSM do Oceano Atlântico (Sul) apresentou neutralidade térmica nos últimos dias e isso favorece uma distribuição irregular das chuvas no Rio Grande do Sul (metade norte e sul) agora no mês setembro.
A estimativa para o trimestre SON é de precipitações abaixo do esperado. Para setembro, os modelos climáticos estimam chuvas dentro (até ligeiramente acima) da média climatológica; para o mês de outubro, as precipitações devem permanecer pouco abaixo do normal e para novembro o acumulado de chuva deve ficar bastante abaixo normalidade. A média das precipitações para a região (considerando a climatologia 1981-2010, INMET/São Luiz Gonzaga) apresenta acumulado para o mês de setembro 152 mm; para outubro 250 mm; e para novembro 162 mm.
As últimas rodadas dos modelos climáticos confirmam as previsões anteriores (primavera e verão) e a configuração do fenômeno La Niña. Segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration (NOAA), os impactos devem ocorrer já a partir do mês de outubro e sua maior influência deve ocorrer entre novembro (principalmente) e janeiro (70% de possibilidade).
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Com relação às temperaturas médias mensais, agosto foi mais quente que o normal (média entre os meses de agosto, de 1981 a 2010), apresentando temperaturas médias maiores que o esperado na região (17ºC). Entretanto, valores de temperaturas mínimas bastante baixas foram registrados (na casa dos 4ºC). Para os próximos meses, os modelos estimam para a região missioneira meses de setembro e outubro com temperaturas dentro da normalidade, e novembro com temperaturas acima da normalidade. A média das temperaturas na região (INMET/São Luiz Gonzaga/1981-2010) no mês de setembro é 18ºC; em outubro 21ºC; e em novembro 23ºC. Considerando as previsões vigentes, pode-se dizer que o risco de ocorrência de geadas em 2021 está afastado. No entanto, o agricultor ainda deve estar atento a outros fenômenos meteorológicos que podem ser prejudiciais às culturas e que são característicos da primavera, como o granizo e os vendavais.
A condição meteorológica no trimestre agosto-setembro-outubro é muito importante para o desenvolvimento, a fase reprodutiva e a colheita dos cultivos de inverno no Rio Grande do Sul. Também é crucial para o estabelecimento inicial da cultura do milho. No mês de agosto, a ocorrência de chuvas, em geral, apresentou maiores acumulados que julho, ultrapassando, em muitas cidades, inclusive, a Normal Climatológica do mês, que é de 102 mm (Figura 1). Cabe ressaltar ocorrência de grande quantidade de precipitação em um único dia (25/8), o que elevou a média mensal de precipitação. Ao longo de todo mês houve um período prolongado com baixíssimo volume de precipitação (até dia 25, aproximadamente).
Em Roque Gonzales, estação que mais registrou chuva, o acumulado chegou a 200 mm, praticamente o dobro do esperado para o mês (102 mm). Já em Cerro Largo, no Campus da UFFS, foram registrados 93 mm de chuva em todo o mês de agosto, valor que corresponde a 91% da média do mês. Assim, houve um abrandamento da condição de estiagem na região, que vem prejudicando seriamente a agricultura regional. É necessário acompanhar o quadro para se ter um diagnóstico mais preciso, nos próximos meses. Também é importante chamar a atenção para o prognóstico de chuvas próximas ao normal (250 mm) no mês de outubro, que poderá ocasionar problemas na colheita do trigo.
As estações meteorológicas da UFFS registraram valores muito elevados de temperatura do ar no mês de agosto de 2021, chegando à marca dos 37°C em muitos locais. Esta é uma característica do clima local, em que ocorrem "dias quentes" em meio ao inverno, com presença de altos valores de temperaturas e baixa umidade relativa do ar (para essa época), principalmente em decorrência de ventos da direção norte, que transportam calor das regiões mais ao centro do país em direção ao sul. Estas condições, especialmente de temperaturas elevadas, podem favorecer a proliferação de pragas, como a cigarrinha do milho, que tem ganhado importância na região. O valor mínimo de temperatura registrado foi zero grau em São Paulo das Missões, no dia 1º de agosto.
Recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção.
* O Boletim Climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão "Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional", coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.
