A maior pedra de granizo já registrada no Brasil caiu no Rio Grande do Sul, em 25 de setembro de 2024. Com 14,6 centímetros de diâmetro, o fenômeno ocorreu em Bagé, na Campanha, durante um intenso temporal. Pouco registrado em outras regiões do Brasil, o evento meteorológico é recorrente no RS. Mas por quê?
Da Serra à Campanha, pedras de gelo caíram do céu em diferentes municípios gaúchos na última semana de setembro. Considerado um evento meteorológico extremo, o granizo causa estragos e ocorre quando há convergência entre massas de ar quente e frio.
Geograficamente, o Rio Grande do Sul é ponto de encontro entre as massas de ar quente que atuam sobre o centro-oeste brasileiro e as frentes frias formadas no Uruguai e Argentina – cenário ideal para a formação de granizo. A diferença na temperatura e intensidade do vento favorece a formação de nuvens cumulonimbus, onde ocorre a formação do granizo e tempestades volumosas.
"Com a presença mais frequente de frentes frias e formação de ciclones enquanto já existe um movimento de ar mais aquecido e úmido em direção ao sul do Brasil, há condições para a formação de tempestades. Isso por ter esse ar mais quente e úmido vindo do norte, ao mesmo momento que ainda tem sistemas mais típicos do inverno atuando sobre o Rio Grande do Sul", explica o meteorologista Murilo Machado Lopes, da Universidade Federal de Santa Maria.
Para Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo, o Rio Grande do Sul está "na rota das tempestades". Ele explica que o ar quente do centro-oeste impede o avanço da frente fria vinda dos países vizinhos, o que resulta em um sistema meteorológico estacionário sobre o Estado e na formação das intensas nuvens de chuva.
Resultado deste contraste entre as massas de ar, as pedras de gelo se formam em nuvens cumulonimbus – cujo temperatura em seu topo é de aproximadamente -40ºC. Outra característica das cumulonimbus é a presença de intensas correntes de vento descendente (ar frio) e ascendente (ar quente), além da alta carga enérgica devido a diferença entre a pressão das massas – cenário favorável para os raios.
Meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel), Henrique Repinaldo explica que o ar quente traz umidade à nuvem e, por ser mais leve que o gelado, sobe ao topo da cumulonibus. Após o processo de condensação das gotículas de água – que passam do estado gasoso para o líquido –, formam-se as gotas de chuva, que logo congelam pela baixa temperatura no alto da nuvem.
"(O granizo) É uma partícula que a gente chama de hidrometeoro, que por ser mais pesado necessita de fortes correntes ascendentes de ar na vertical para não cair (em direção ao solo)", explica.
Repinaldo salienta que quanto mais intensa a corrente de ar ascendente, maior será o tamanho da pedra de gelo formada. Ou seja, quanto mais tempo o hidrometeoro permanecer no topo da nuvem, mais gotículas de água condensada se juntaram a ele. Em algumas ocasiões, por ser pequeno, o granizo derrete antes de chegar ao solo e torna-se uma simples gota de chuva.
Nesta quarta-feira (2/10), a combinação de fatores voltou a ser observada no Rio Grande do Sul. Durante a manhã, autoridades locais de municípios da Serra como Caxias do Sul, Carlos Barbosa, Bom Jesus e Garibaldi registraram queda de granizo.
O fenômeno também ocorreu em Carazinho e Passo Fundo, na região Norte; e Panambi, Ijuí e Santa Rosa, no Noroeste, entre outros municípios afetados, em menor intensidade.