


A 13ª edição do Fórum do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) aconteceu de forma on-line e apresentou os campeões de produtividade no Brasil. Em 2020 foram 5.204 mil inscrições, número 18,3% maior do que o realizado no ano passado, quando participaram 4.400 sojicultores.
Neste ano o título de campeão de alta produtividade do CESB é Laércio Dalla Vechia, da Fazenda Santa Terezinha, de Mangueirinha (PR). O produtor colheu 118,82 sacas por hectare.
Sem segredos
Dalla Vechia tem uma área de 250 hectares, com 190 hectares de lavoura. Ele ressalta que a alta produtividade não tem segredo. Ele aplica rotação de culturas, investe em manejo e monitoramento e destaca que o sojicultor tem que conhecer as realidades de sua lavoura e fazer o básico bem feito. "Ano após ano vamos nos desafiando e alcançando bons números e o que é mais importante: com sustentabilidade. Não tem segredo", diz.
Para quem o conhece, não há espanto nesse resultado. Até porque ele faz questão de dividir todo o conhecimento adquirido com os muitos seguidores que possui no Facebook e nos grupos técnicos de WhatsApp, que estão lotados.
Apenas agricultor
Laércio destaca que não concluiu uma faculdade na área que ama. "Sou apenas agricultor", completa.
Mas isso não faz a menor diferença quando o assunto é agricultura. Para ele, os grupos não têm caráter de autopromoção, mas servem para debater as muitas possibilidades que os manejos diferentes ocorridos em outras fazendas possam agregar em sua produção.
"Não sou formado, sou agricultor. E todo o conhecimento que possuo hoje é empírico. Tenho pelo menos três grandes grupos técnicos de debate de agricultura. É muita informação, muita troca de experiências e conhecimentos. O que funciona para um pode não dar certo com o outro, mas testamos para aprender e entender o que é melhor para nossa área", destaca.
Tal pai, tal filho
A história da família Dalla Vecchia provavelmente é igual a de muitos outros produtores do Sul. Os avós, agricultores na Itália, vieram ao Brasil para tentar ter uma vida melhor. Os país de Laércio seguiram os mesmos passos e serviram de exemplo ao vencedor do Cesb.
Laércio conta que desde muito novo já gostava de ficar nas lavouras acompanhando os trabalhos dos familiares. "Quando era criança, minha maior alegria era quando tocava o sinal da escola e eu podia correr de volta pras lavouras. Não só eu, como meus irmãos também amavam a agricultura, tanto que brigavam para dirigir o trator do pai", relembra ele.
Mas Laércio não só queria brincar nas lavouras, como as outras crianças. Queria aprender, tanto que acompanhava de perto o que os familiares faziam e falavam sobre as áreas. "Lembro até hoje de uma coisa que os adultos faziam e desde criança comecei a fazer também. Sempre que a gente encontrava um amigo agricultor eu já ia perguntando quanto a lavoura dele tinha rendido, o que ele tinha feito a mais para conseguir aquilo. Era engraçado uma criança perguntar aquelas coisas. Mas eu não repetia, eu observava mesmo e tinha curiosidade de saber o que tinha de diferente", relembra.
As brincadeiras também eram bastante temáticas, já que na maioria das vezes partiam de ser um agricultor na lida diária com a sua área. Curiosamente, um dos filhos de Laércio tomou gosto pelo menos tipo de diversão.
"Eu ficava lá, brincando de fazer meus silos, brincando de puxar soja. E, é engraçado perceber que um dos meus filhos, faz a mesma coisa. Tem até a sua própria lavourinha, com plantio de verdade, mix de cobertura e manejo diferenciado", comenta o pai todo orgulhoso.
Tecnologia
O professor Ricardo Balardin, doutor em Ciências da Colheita e do Solo e Patologia Vegetal, pela Michigan State University, destacou alguns fatores que fazem a diferença entre os grandes produtores, focados em tecnologia, análise do perfil de solo, manejos e sustentabilidade. Entre os elementos que contribuem para o bom desempenho está a ecoeficiência, o impacto econômico da cultura.
Retorno
Enquanto cada produtor da Região Sul teve em média um retorno de R$ 1,50 a cada real investido, o campeão de produtividade atingiu R$ 2,80 a cada real investido. Clima, boas cultivares, estrutura de solo, profundidade de semeadura e aplicação de fertilizante, plantabilidade (com cerca de 83% das plantas em ótima condição) e práticas agrícolas adequadas de manejo. "Tem um trabalho técnico, agronômico e a família, porque essa é a base de tudo e que incentiva a tudo", destaca o professor.
O Desafio de Alta Produtividade do CESB busca produzir mais e no mesmo espaço, utilizando pesquisas, tecnologias e a sustentabilidade como pilares para alcance dos maiores índices de produtividade de soja. A média atual de produtividade nacional de soja está em 50 sacas por hectare.
Em 2019 o grande vencedor foi o produtor Maurício De Bortoli, de Cruz Alta (RS) com 123, 88 sacas por hectare.
Evolução técnica
O técnico agrícola Breno Ely, já aposentado, lembra que nos anos 70, quando comentava com os agricultores ser possível colher 100 sacas de milho por hectare, muitos não acreditavam.
"Pois hoje estamos falando em colher 100 sacas de soja por hectare. A evolução tem sido grande e os produtores precisam estar em constante atualização", destaca Ely.