

Avaliação técnica favorável valida uso da estrutura regional de saúde como campo de prática; criação depende de recursos para contratação de pessoal e infraestrutura
Em um marco para a educação superior e a saúde regional, a Comissão de Acompanhamento e Monitoramento de Escolas Médicas (CAMEM), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), divulgou nesta semana seu parecer conclusivo recomendando a implantação do Curso de Graduação em Medicina no Campus Cerro Largo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). O documento, resultado da visita técnica realizada nos dias 6 e 7 de outubro (saiba mais AQUI), valida a viabilidade da proposta e destaca o "conceito de estrutura regional de saúde como campo de prática profissional" – um pilar inovador da iniciativa, que propõe a integração do ensino médico à rede de saúde da Macrorregião.
O parecer final, assinado pela coordenadora da CAMEM, Profa. Dra. Michelle Alves Vasconcelos Ponte, e pelo Prof. Dr. Luis Fernando Fernandes Adan, reconhece que a UFFS Cerro Largo "reúne condições necessárias para a implantação e início das atividades do curso", com ênfase na relevância regional. "O Curso de Medicina tem grande relevância para a região proposta, atendendo às necessidades regionais de saúde e respondendo às lacunas assistenciais, principalmente na área médica", afirma o texto, que recomenda monitoramento contínuo para garantir o cumprimento de metas acadêmicas, administrativas e de recursos financeiros.
O processo de criação do curso, iniciado em 2023, responde a uma demanda histórica por profissionais de saúde na região, marcada por escassez de médicos e desafios na atenção básica. Um grupo de trabalho do Conselho de Campus elaborou o relatório de viabilidade, seguido pelo Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e o relatório de condições de oferta. A proposta foi aprovada pelo Conselho Universitário da UFFS (Decisão nº 1/CONSUNI/UFFS/2025) e protocolada no MEC em 28 de fevereiro de 2025. Em março, uma comitiva com representantes da universidade, prefeitos, vereadores e deputados federais entregou o documento em Brasília, simbolizando o apoio amplo da comunidade.
A visita da CAMEM (saiba mais AQUI), há menos de um mês, mobilizou autoridades de 21 municípios, incluindo prefeitos, secretários de saúde, administradores hospitalares e membros do Conselho Comunitário. A agenda incluiu reuniões com a Comissão de Implantação (instituída pela Portaria Nº 68/CCL/UFFS/2025), inspeções no campus, visitas ao Hospital Vida & Saúde (Santa Rosa), à Unidade Básica de Saúde de Cerro Largo e ao Hospital AHCASA (Cerro Largo), além de um encontro final com a reitoria em Chapecó. A Profa. Dra. Michelle Ponte elogiou o engajamento: "Em muitos anos de atuação, nunca testemunhei um apoio tão expressivo de autoridades regionais para a criação de um curso de Medicina".
O relatório da CAMEM resume recomendações em quatro dimensões principais, equilibrando elogios à estrutura existente com sugestões para consolidação:
Recursos Humanos e Financeiros: A comissão enfatiza a contratação prioritária de docentes médicos para coordenar o curso e promover inserção precoce na atenção primária. Recomenda o planejamento relacionado com necessidades de docentes, técnicos administrativos (TAE) e recursos para infraestrutura, vinculadas a um cronograma de vagas.
Infraestrutura: O campus atende às demandas iniciais, mas precisará investir em novas estruturas e equipamentos, em especial laboratórios de habilidades médicas e espaços para metodologias ativas.
Projeto Pedagógico do Curso: Os elementos obrigatórios estão presentes, mas a CAMEM orienta adequações à luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para Medicina, homologadas pelo MEC em 29 de setembro de 2025.
Relação Ensino-Serviço: Destaca-se a consolidação do Comitê de Orientação e Acompanhamento Pedagógico e de Estágio Supervisionado e a manutenção de convênios entre Secretarias Municipais de Saúde (SMS) e a UFFS, essenciais para a integração com o sistema de saúde regional.
O diretor do Campus Cerro Largo e presidente da Comissão de Implantação, Prof. Bruno München Wenzel, considerou o parecer "mais uma etapa crucial vencida". Ele destacou: "Graças à união de toda a região, ao apoio das lideranças e à dedicação das comissões de viabilidade, elaboração do PPC, aprofundamento dos estudos e busca de parcerias, obtivemos avaliação técnica favorável e validação do conceito de estrutura regional de saúde como campo de prática profissional. É resultado do esforço coletivo – parabéns e obrigado às lideranças envolvidas".
Wenzel reforçou, porém, que o documento "ainda não garante a criação do curso", servindo apenas como base para avançar nos trâmites junto ao MEC.
Com o parecer em mãos, a UFFS avança para novas etapas. Já foi criado um grupo da UFFS para, em conjunto com membros da CAMEM, responsáveis pelo acompanhamento da implantação, realizar ajustes e avançar em alguns aspectos apontados no relatório. Internamente, está em elaboração uma proposta de cronograma de investimentos para os próximos anos, incluindo: (i) plano de contratação de professores, principalmente médicos, e servidores técnicos; (ii) plano de investimentos em infraestrutura e equipamentos. A prioridade agora é garantir docentes suficientes para poder iniciar o curso, com expectativa de compromisso de novos aportes do MEC.
"Precisamos buscar recursos para a implantação. Será crucial o apoio da bancada gaúcha no Congresso Nacional, apresentando o curso como prioridade regional para garantir apoio e verbas", enfatiza Wenzel. Reuniões mensais com a CAMEM estão agendadas a partir de novembro, e uma nova visita técnica, mais detalhada, ocorrerá em abril ou maio de 2026.
A força da iniciativa reside no apoio transversal. A reunião de trabalho do dia 6 de outubro reuniu dezenas de autoridades, incluindo prefeitos da Associação dos Municípios das Missões (AMM) e da Associação dos Municípios da Fronteira Noroeste (AMUFRON), secretários de saúde, vereadores da Associação dos Legislativos das Missões (ALM) e representantes de hospitais. O Conselho Comunitário do Campus reforça o compromisso comunitário.
Essa mobilização, que ecoa desde a implantação da UFFS em 2010, posiciona o Curso de Medicina como vetor de desenvolvimento sustentável para a Macrorregião, atendendo lacunas em áreas como atenção primária e especialidades.
Com o aval técnico, o sonho de formar médicos locais ganha contornos reais – rumo à efetivação.
Comissão do MEC faz visita à UFFS