

Tradições e costumes praticados no réveillon, como show de fogos de artifício e uso de roupa branca, são associados a sorte em vários países
Tradição que é tradição não tem lá muito explicação. Ou não. Já pensou no real motivo de a maior parte das pessoas, no Ano Novo, associar sorte ao ato de comer lentilha — e/ou uvas, castanhas, romãs, frutas secas, peixes, carne de porco? A rigor, há embasamentos históricos, com ares de lenda, para essas e outras crenças que, há séculos, fazem a cabeça de turbas réveillon sim, réveillon também.
É verdade. Até a popularização de fogos de artifício — em espetáculo visual (e sonoro, pow pow) descortinado do Brasil à Austrália todo 31 de janeiro — tem uma motivação específica. Nada estoura por acaso. A seguir, confira algumas explicações para costumes famosos praticados no Ano Novo.
De origem italiana, a tradição de comer lentilhas no Ano Novo chegou ao Brasil com os imigrantes. O costume de consumir a leguminosa na virada do ano simboliza o desejo de prosperidade e abundância financeira. A crença está ligada ao formato do grão, semelhante ao de uma moeda. Na Itália, o ditado popular resume a tradição: "Lenticchie a capod’anno, franchi tutto l’anno" — em português, "lentilha no Ano Novo, dinheiro o ano todo".
A origem dos fogos de artifício remonta à China, há mais de dois mil anos, quando se utilizava o chamado "fogo químico" na extremidade de bambus. De acordo com a tradição oriental, o barulho e a luz serviam para afastar espíritos malignos. Com o passar do tempo, ciência e tecnologia aperfeiçoaram a técnica. Depois de se difundirem pela Europa, os fogos chegaram ao Brasil trazidos por imigrantes portugueses e italianos. A tradição, então, passou a estourar em todos os continentes.
Na umbanda, o número sete simboliza as sete linhas que estruturam a religião, de modo que cada pulo corresponde a um pedido direcionado a um orixá diferente. Considerado cabalístico, o algarismo também é associado a Exu, entidade ligada à prosperidade financeira e à abertura de caminhos e oportunidades. Vem daí a tradição no réveillon.
Ricas em cálcio, vitamina E e vitaminas do complexo B, castanhas, nozes e avelãs são associadas à prevenção de doenças e, no imaginário popular, também à prosperidade. Trazidos ao Brasil por imigrantes árabes, esses alimentos de longa duração simbolizam fartura e continuidade ao longo do ano, ideia reforçada pelo formato arredondado dos grãos. Na virada do Ano Novo, a tradição inclui comer sete castanhas — número considerado sagrado e de sorte — ou guardá-las na carteira ou sob o travesseiro, como forma de atrair boas energias, abundância e riqueza.
A tradição de consumir romã no réveillon tem origem na Grécia, onde o fruto é arremessado ao chão, quebrado e repartido entre os presentes como símbolo de prosperidade, sorte e renovação. Já na Igreja Católica, no Dia de Reis, celebrado em 6 de janeiro, o costume é comer a fruta e guardar algumas sementes na carteira, como forma de atrair sorte e dinheiro.
A tradição de vestir branco no réveillon ganhou força no Brasil a partir da década de 1970, quando religiosos de matrizes africanas passaram a realizar, em Copacabana, cerimônias em homenagem a Iemanjá, divindade associada ao mar e à proteção de grávidas e pescadores. Com a popularização das celebrações, o costume se consolidou na cultura brasileira e passou a ser adotado também por pessoas fora do contexto religioso.