O boletim climático do trimestre outubro, novembro e dezembro, elaborado pelos professores da UFFS - Campus Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons apresenta para os próximos meses para a região, previsão precipitações com volumes acima do normal.
As águas superficiais dos oceanos Pacífico tropical e Atlântico Sul têm apresentado temperaturas acima da média nos últimos meses indicando a presença do fenômeno climático El Niño, que, aliás, exerce sua maior influência sobre a região Sul (do Brasil), “entre o final da primavera e início do verão”. Segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration (NOAA), a tendência é aumentar ainda mais o aquecimento já existente (1,5ºC, nas últimas 4 semanas) no oceano pacífico, bem como, a persistência do fenômeno, que deve permanecer atuante (95% de chance), até o trimestre Jan/Mar de 2024. A estimativa de vários modelos climáticos mostra que a TSM pode atingir, entre outubro/2023 e janeiro/2024, valores médios de 2.2ºC de aumento. Essa condição implicará em mais umidade no ar, chuvas mais volumosas e intensas, e temperatura do ar, acima da média para região das missões.
A previsão por conjunto de diversos modelos climáticos estima precipitações acima normalidade para o trimestre OND. Para o mês de outubro (que tem média esperada de precipitação 264mm e mês que mais chove na região das missões) estimam-se 90 a 100mm além da média.
Para novembro as projeções mostram chuvas entre 120 a 180mm acima do esperado (que é de 170mm); e para dezembro, a estimativa é que as precipitações variem entre 124 a 186mm acima da média mensal (que é de 200mm). Precipitações essas que devem manter como característica principal, a ocorrência de grandes acumulados em curtos períodos de tempo (tendência que deverá prevalecer também nos próximos anos).
Com relação às temperaturas, os modelos climáticos estimam um trimestre com comportamento acima do normal, assim como já vem ocorrendo desde maio deste ano. Nos meses de outubro e novembro a temperatura do ar pode ficar 1ºC acima do normal (atingindo médias de 22ºC e 24.3ºC, respectivamente), e em dezembro, que será o mês mais quente do trimestre, o aumento poderá alcançar 1.5ºC, na média (média mensal de 26,9ºC).
A condição meteorológica para o trimestre é crucial para a colheita da cultura do trigo e definição da produtividade da primeira safra da cultura do milho no Rio Grande do Sul. Também, é nesse trimestre que se faz a semeadura das lavouras de soja. A perspectiva de chuvas acima da média no trimestre traz preocupação aos agricultores, que já tem no horizonte uma safra de trigo frustrada, devido ao excesso de chuvas e outros eventos extremos de tempo, como vendavais e granizo. Por outro lado, é possível que um aumento nas chuvas possa beneficiar o enchimento de grãos do milho em nossa região e garantir uma boa condição de implantação das lavouras de soja. Contudo, o agricultor deve avaliar, em conjunto com o profissional responsável por sua assistência técnica, o melhor momento para a semeadura da soja e a realização das demais atividades de sua propriedade, considerando ainda os próximos prognósticos, quando já haverá um panorama sobre a expectativa sobre o verão de 2023. Por outro lado, com relação ao trigo, é importante que o agricultor aproveite os momentos oportunos de colheita, uma vez que as "janelas" de tempo seco não devem ser muito extensas e frequentes.
Considerando a previsão de temperatura e umidade do ar acima da média, será necessário ainda ter atenção especial ao conforto térmico dos animais, pois essas condições podem causar estresse calórico, causando perdas de produção.
Recomenda-se, por fim, que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.
** boletim climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional, coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.