Se você acha que os radares de trânsito só servem para medir a velocidade dos carros, pode começar a rever essa ideia. A tecnologia avançou e, hoje, esses equipamentos se tornaram verdadeiros 'fiscais eletrônicos', monitorando muito mais do que quem pisa fundo no acelerador.
Já em operação em várias cidades brasileiras, como Curitiba e Salvador, os novos radares são capazes de detectar uma série de infrações. Com sensores e inteligência artificial (IA), eles observam como você dirige, o que você está fazendo ao volante e até mesmo quantas pessoas estão dentro do carro. Isso inclui ações como dirigir falando no celular ou avançar no semáforo vermelho.
Com o tempo, os radares passaram a fazer parte do nosso cotidiano, a ponto de alguns motoristas já saberem de cor onde estão instalados, freando antes de passar por eles para evitar a multa. No entanto, os radares atuais vão além dessa 'jogada'.
Graças a tecnologias como o efeito Doppler e o chamado 'laço virtual', que calcula informações a partir de imagens, eles conseguem monitorar uma área de até 100 metros ao redor, registrando infrações como avanço de semáforo vermelho, parada em cima da faixa de pedestres, conversões proibidas e fluxo em contramão. E, claro, ainda continuam flagrando quem ultrapassa o limite de velocidade.
Um dos grandes trunfos desses novos radares é a inteligência artificial. Com ela, os equipamentos se tornaram 'mais espertos' e podem se adaptar ao fluxo de trânsito em tempo real. Por exemplo, em horários de pico, quando o tráfego está mais intenso, podem ajustar os limites de velocidade, oferecendo uma fiscalização mais justa e eficiente.
Outra novidade interessante é o monitoramento de velocidade média. Isso já está em teste em rodovias como a BR 050, em Minas Gerais. Funciona assim: o sistema calcula quanto tempo você leva para percorrer um trecho específico. Se fizer isso mais rápido do que o permitido, fica claro que você estava acima da velocidade — aí o alerta soa, e não adianta frear apenas em cima do radar.
De acordo com Bruno Araújo Silva, gerente de operações da Eco050, concessionária que administra um trecho da BR 050 em Minas Gerais monitorado por um desses equipamentos, essa tecnologia traz uma importante vantagem ao aumentar a área de monitoração das rodovias, promovendo uma segurança viária maior.
Além de vigiar o comportamento do motorista, a forma como esses novos radares são instalados também mudou. Muitos deles não precisam mais de sensores no asfalto — aqueles que, no passado, exigiam obras nas vias, gerando transtornos e custos. Agora, com os chamados 'radares não intrusivos', as infrações são capturadas por câmeras de alta definição, sem precisar mexer no pavimento.
Essas câmeras, aliadas a softwares inteligentes, capturam não só as infrações, mas também dados importantes sobre o trânsito, como a contagem de veículos e a identificação de áreas mais propensas a acidentes. Tudo isso contribui para que as autoridades possam planejar melhor o fluxo viário e, claro, aumentar a segurança de todos.
Segundo Guilherme Araújo, presidente da Velsis, empresa responsável por parte da instalação desses radares no Brasil, esses equipamentos monitoram as estradas com precisão e contribuem para uma melhor gestão do tráfego.
"Esses radares inteligentes nos permitem entender melhor o comportamento dos motoristas ao longo de todo o percurso, e não só em um ponto específico, agregando inteligência às operações de fiscalização", explica Araújo.
Apesar de toda essa tecnologia já estar disponível, há ainda algumas barreiras a serem superadas, especialmente quando falamos de regulamentação. Segundo o advogado Marco Fabrício Vieira, assessor da presidência da CET-Santos e conselheiro do Cetran-SP, o uso desses novos radares para aplicação de multas, no caso da medição de velocidade média, ainda precisa de regulamentação do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e de alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
"Atualmente, eles podem ser utilizados apenas para monitoramento, mas qualquer penalidade com base nesse sistema, sem essa regulamentação, é considerada ilegal", opina o especialista.
Mesmo assim, é inegável que estamos entrando em uma nova era da fiscalização de trânsito. O radar, que antes era visto apenas como 'caça-velocidade', está se transformando em um verdadeiro gestor de tráfego, cuidando não só das infrações, mas também da segurança nas ruas e estradas.
No fim das contas, o que vemos é que os radares estão ficando cada vez mais inteligentes — e nós, motoristas, precisamos nos adaptar a essa nova realidade. Mais do que se preocupar em frear ao passar por um radar, a atenção agora precisa estar em dirigir com responsabilidade o tempo todo.
Afinal, esses 'fiscais eletrônicos' podem estar de olho em tudo.