Na manhã dessa quinta-feira (15), a Polícia Civil, por intermédio do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e da Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas de São Luiz Gonzaga (Draco), contando com a participação de diversos órgãos de segurança pública e fiscalização dos Estados do Rio Grande do Sul (RS), Paraná (PR) e Bahia (BA), todos integrantes da Operação Hórus, deflagrou operação em três estados e desmantelou organização criminosa que vendia e falsificava agrotóxicos proibidos no Brasil.
Foram executadas mais de 160 ordens judiciais contra uma organização criminosa que comercializa e falsifica agrotóxicos de uso proibido no Brasil. Dentre as ordens judiciais destacam-se 11 mandados de prisão preventiva (chefias da organização), 55 mandados de busca e apreensão em residências e empresas (em 15 cidades gaúchas, uma do Paraná e cinco na Bahia), 22 mandados de busca e apreensão de veículos (usados ou adquiridos pela organização criminosa), 37 mandados de sequestro de bens e rendas e suspensão dos CNPJs das empresas “"aranjas".
Dentre as cidades que foram alvos da operação, destacam-se São Luiz Gonzaga/RS, Santo Antônio das Missões/RS, Roque Gonzales/RS, Bossoroca/RS, Santiago/RS, Itacurubi/RS, Passo Fundo/RS, Marau/RS, Palmeira das Missões/RS, Nova Ramada/RS, Santo Ângelo/RS, Giruá/RS, Humaitá/RS, Tiradentes do Sul/RS, Cruz Alta/RS, Marialva/PR, São Desidério/BA, Novo Paraná/BA, Luís Eduardo Magalhães/BA, Barreiras/BA e Riachão das Neves/BA.
A operação policial é resultado de uma investigação que vem sendo realizada pelo DPI e pela Draco São Luiz Gonzaga/RS, que coordenam a Operação Hórus na Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Ambos são coordenados também pelo DPI da SSP e Chefia da Polícia Civil. No RS, além de 125 policiais civis, participaram policiais e agentes da Brigada Militar, Polícia Rodoviária Estadual, Polícia Rodoviária Federal, Batalhão de Operações Especiais, Ministério da Pecuária, Agricultura e Abastecimento, Receita Federal, Secretaria Estadual da Agricultura e Instituto-Geral de Perícias. No Paraná e Bahia participaram a Polícia Civil, Polícia Militar e Ministério da Pecuária, Agricultura e Abastecimento.
As investigações da Draco São Luiz Gonzaga iniciaram há cerca de um ano, a partir de uma demanda da coordenação central da operação Hórus (Ministério da Justiça, em Brasília), juntamente com a Secretaria de Segurança Pública do RS e Chefia da Polícia Civil, já que estudos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento indicavam que, desde meados do ano de 2021, o RS tornou-se a porta de entrada de agrotóxicos ilegais fabricados na China e na Índia, que ingressam no território brasileiro pelos países vizinhos da Argentina e Uruguai.
Tal situação, que representa enorme risco à saúde pública, ao meio ambiente e à economia local e nacional, resultou num trabalho conjunto coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública que, por intermédio da Operação Hórus e Operação Controle Brasil, mapeou alguns grupos envolvidos e os pontos de ingresso dos agrotóxicos, resultando num trabalho investigativo amplo, que congregou todas as bases Hórus da Polícia Civil (São Luiz Gonzaga, Santiago, Bagé, Passo Fundo e Três Passos).
A organização criminosa tinha como sede principal a cidade de São Luiz Gonzaga/RS e se dividia em seis células, que eram compostas por 34 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas (empresas). Dois grupos menores, um deles sediado na zona rural de Roque Gonzales/RS e outro em Humaitá/RS, eram os responsáveis pelo fornecimento dos agrotóxicos proibidos e insumos usados na falsificação.
As demais quatro células se dividiam na falsificação dos produtos e embalagens, na venda dos agrotóxicos proibidos e na lavagem da renda do crime por meio de "laranjas", tendo como sede principal a cidade de São Luiz Gonzaga/RS.
No decorrer das investigações, que contaram também com a participação efetiva dos demais órgãos de segurança pública e fiscalização envolvidos na operação Hórus de grande parte do Brasil, apurou-se que a organização criminosa era chefiada por um grupo de produtores rurais e empresários, alguns deles do ramo de insumos agrícolas, sendo que alguns deles movimentaram, em poucos meses – de janeiro a agosto de 2022 – mais de 25 milhões de reais em contas bancárias de "laranjas" (empresas, parentes e amantes).
A organização criminosa enviou diversas cargas de agrotóxicos ilegais para diversos produtores rurais do Brasil, em especial RS e Bahia, sendo que lá as cargas se concentraram nas regiões de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, região que tem se destacado nacionalmente na produção de grãos, especialmente a soja.
A Draco São Luiz Gonzaga monitorou as movimentações financeiras dos investigados, constatando que grande parte do dinheiro auferido com a venda criminosa dos agrotóxicos ilegais passou pelas mãos de diversos "laranjas", incluindo familiares, "amantes" e empresas. Das atividades empresariais usadas para a lavagem da renda do crime, destacaram-se uma conhecida loja de roupas de grife, uma empresa do ramo de insumos agrícolas e uma pequena empresa de fabricação de cucas" (pães doces), todas localizadas em São Luiz Gonzaga/RS.