Língua tem origem germânica e chegou ao Brasil há 200 anos, por meio de imigrantes
Não é preciso procurar muito para achar alguém que fale alemão nas ruas de Cerro Largo. Por aqui, muita gente fala o Hunsrik, considerado o mais falado idioma germânico trazido ao Brasil por imigrantes e recentemente incluído entre os idiomas disponíveis para consulta no Google Tradutor.
Além do Hunsrik, o Google Tradutor – ferramenta que traduz textos, imagens e voz para outra língua – incorporou mais 110 novos idiomas, representando mais de 660 milhões de falantes, ou seja, cerca de 8% da população mundial, segundo a empresa.
"Toda a nossa escrita é baseada no som da letra. Como tá escrito, tu lês. As crianças no final do primeiro ano (do Ensino Fundamental) leem fluentemente", explica a especialista Solange Hamester Johann, contextualizando que o Hunsrik se aproxima em 60% ao inglês e apenas 30% ao alemão.
De acordo com Johann, existem entre três e quatro milhões de falantes de Hunsrik no Brasil. Comum nos vales dos Sinos, do Caí, do Taquari e do Rio Pardo, e demais regiões onde há descendentes de imigrantes alemães, como é o caso da região Noroeste.
A inclusão do Hunsrik no Google Tradutor é vista como um reconhecimento importante para uma língua que carrega a herança cultural e as raízes germânicas de uma importante parcela da população do sul do Brasil.
Neste dia 25 de julho, o Rio Grande do Sul comemora o Bicentenário da Imigração Alemã, que marca os duzentos anos da vinda dos imigrantes alemães. Foi neste momento, em 1824, que as línguas de origem germânica surgiram no Brasil como maneiras de comunicação, entre elas o Hunsrik, como também o Westfaliano e o Pomerano.
Em 2004, a linguista alemã Ursula Wiesemann, em parceria com a Sociedade Internacional de Linguística (SIL), lançou o Projeto Hunsrik Plat Taytx. Esta iniciativa visava criar um código escrito para a língua Hunsrik.
"Recebemos uma equipe de linguistas chefiada pela doutora Ursula Wiesemann, que ficou morando aqui conosco durante cinco anos para criar essa escrita", conta Solange, atual coordenadora do projeto.
O trabalho de Ursula e sua equipe resultou no registro da língua Hunsrik no Ethnologue, uma iniciativa da Unesco que cataloga as línguas existentes no mundo.
"A nossa língua, Hunsrik, é a oficial de Luxemburgo. É falada em dois estados da França, na metade sul da Bélgica, e na Holanda. Quatro estados da Alemanha falam a nossa língua. Quando estou lá, me sinto em casa. Eu choro de saudades, porque falo com as pessoas e eles dizem 'mentira que tu é do Brasil, tu fala igual a gente'", compartilha Solange.
Segundo a Secretaria de Cultura do RS, a legislação "declarou o hunsriqueano como patrimônio histórico e cultural do Estado".
De acordo com supervisora de ensino da SMEC, professora Valdivia Konzen Eich, aproximadamente 900 alunos da rede municipal de ensino de Cerro Largo tem acesso ao ensino da língua alemã.
Do 3º ao 9º anos, aprende-se o alemão clássico. Nos 8º e 9º anos, são aplicadas provas de proficiência. E no 9º ano, estudantes participam de concurso de leitura em alemão - o Lesewettbewerb, que tem etapas municipal, regional e estadual. Em nível estadual, o Instituto Goethe inclusive premia os melhores desempenhos com bolsas de intercâmbio na Alemanha.
Há ainda participação em eventos regionais e anuais, como o Festival do Canto em Língua Alemã, dentro da programação da Oktoberfest Missões; e o Theaterfestival, festival de teatro regional.
Todas essas atividades envolvem o alemão clássico, mas o Hunsrik também tem seu espaço, com dinâmicas lúdicas de canto, teatro e contação de histórias.
E, para os demais interessados no idioma germânico, o Instituto Cultural Brasileiro-Alemão oferece aulas noturnas, em três níveis (três anos), que acontecem na URI-Cerro Largo.
Famílias preservam a língua alemã
