


Os traços da arte e da cultura gaúchas aparecem nas diferentes manifestações que consolidam os costumes tradicionais do povo sul-rio-grandense. E são as variadas condições históricas que abrem às possibilidades de apropriação destes costumes, que constituem aspectos da vida social e, igualmente, dos processos típicos a ela. É assim que a cultura gaúcha se faz: como produto da atividade humana, que contribui para que o gaúcho seja visto com representação positiva que perpassa o tempo.
Este mês de setembro, tão diferenciado dos tantos outros vividos pelo movimento gaúcho, sinalizou interesse a uma breve 'visita' à literatura existente sobre a arte e a cultura gaúchas. Breve, porque a intenção de pesquisar e escrever sobre o tema, à exaustão, demandaria tempo estendido - o que compreendeu tarefa inviável para o momento, mas passível de prática futura.
O estudo considerou os traços que marcam a tradição e que reúnem uma série de aspectos que permanecem radicados aos costumes tradicionais; entre esses, a exaltação deste sujeito que tem um passado de honras e glórias. É este aspecto que vem exposto aqui, com a intenção de apresentar o gaúcho como figura representativa da identidade regional, no Rio Grande do Sul, que tem na arte e na cultura um ponto de referência para a sua atuação. E o mesmo teve aporte significativo em Oliven (2006).
Ruben George Oliven, pesquisador sobre cultura e identidades nacional e regional, entre tantas outras áreas, escreveu sobre esse passado: "formou homens à imagem de um tipo ideal, criado em meio à liberdade do campo, montado em seu cavalo, desbravando a natureza, protegendo as fronteiras, respeitando o inimigo e lutando pela honra e pela justiça" (OLIVEN, 2006, p.66). Assim, essa identidade, que entrecruza a reafirmação da cultura e da arte gaúcha com os valores de honra e justiça, é exaltada para que se mantenha viva a tradição.
Hábitos e costumes reúnem o legado cultural da região sul - legado este visto na apreciação à roda de chimarrão; à indumentária gaúcha, do uso da pilcha e do vestido de prenda; à rica gastronomia do churrasco, do charque e do arroz-carreteiro; à lida com o gado e cavalos, na estância, ou arredor; à terra rio-grandense, enfim.
A arte aparece difundindo e consagrando a ideologia gauchesca e os aspectos peculiares do vocabulário, do artesanato, da música, da dança e da poesia. Na verdade, incorpora os elementos culturais, em locais privilegiados como o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e entidades afins; as atividades campeiras; os festivais e tantas outras formas tradicionalistas sul-rio-grandenses.
Conforme Oliven (2006), a dinamicidade da arte e da cultura gaúchas é vista, de forma significativa, nos recintos que as exaltam e as mantém. Nesses locais de interação entre pessoas do mesmo grupo social, se reconhecem origens e resgatam raízes, dando-se sequência ao dinamismo tradicionalista. E é o Movimento Tradicionalista Gaúcha (MTG), entidade cívica que, entre tantos propósitos, busca revalidar e reafirmar a mobilidade da cultura e da arte gaúchas tendo estes espaços como pontos culturais, que fortalecem a herança social gaúcha.
É passada a Semana Farroupilha. Mas não o interesse que se teve em resgatar um tanto da complexa origem da figura do gaúcho, que remonta ao fato de ser considerado, inicialmente, um homem típico da vida campeira, "[...] homem livre e errante que vagueia soberano sobre seu cavalo[...]" (OLIVEN, 2006, p.97); depois, segundo o mesmo autor, um cancioneiro popular e, ainda, como "o homem nascido no Rio Grande do Sul"; mas que, na contemporaneidade, é reconhecido "um símbolo da identidade regional".
Esse resgate das diferentes visões e demais traços do passado compreende tradição. Eles são parte do processo de construção da identidade de um povo que se identifica não com uma construção inventada, mas com os elementos que absorvem diferenciados peculiaridades culturais e que recebem significados específicos da tradição gaúcha. A arte e a cultura gaúchas são formas que dão significado ao tradicionalismo. Oliven (2006) trata destes vínculos que identificam o gaúcho, postulando que Centros de Tradições Gaúchas afirmam os gaúchos perante a sociedade, sendo espaços de valorização cultural, que mantêm operante o patrimônio da formação gaúcha. Assim como o fazem os demais espaços culturais tradicionalistas.
A cultura e arte gaúchas referem-se ao gaúcho do Rio Grande do Sul, com atenção a diferentes aspectos, especiais e específicos ao tradicionalismo: o cívico da grande pátria, Brasil e da pequena, RS, simbolizado pelas duas bandeiras; o filosófico, que dá unidade e torna o tradicionalismo um movimento; o ético, que disciplina a permissão e o que não é permitido dentro da entidade; o associativo, que organiza a coletividade e o sentimento em relação à trajetória da construção da identidade regional vista, também, na Chama Crioula; bem como o recreativo, que possibilita momentos de integração, em fandangos e demais formas que prezam a essência do sentimento de ideal e unidade.
As inúmeras batalhas travadas, como a Revolução Farroupilha, do 'sangue no fio da espada'; as palavras específicas do idioma; a geografia da serra gaúcha e dos pampas; as obras literárias riquíssimas; à motivação à poesia, à dança e à música, por exemplo, são, também, ideais que remontam ao passado, servindo de modelo a outros estados e países. Modelo este, que é parte de um presente que faz o povo, mesmo em meio a tantas dificuldades e momentos reversos, ter orgulho de viver, 'encostado' com as marcas do tradicionalismo e pertencer ao Rio Grande do Sul.