Na atual legislatura, a Câmara de Vereadores de Cerro Largo conta com três mulheres em sua composição, ou seja, um terço das vagas é ocupado pela bancada feminina
Mas nem sempre foi assim. Logo após a emancipação, Cerro Largo elegeu Eunice de Almeida Flach (PTB) por duas legislaturas seguidas (1956/1959 e 1960/1963), sendo inclusive Presidente da Casa do Povo durante quatro anos, em seu segundo mandato.
Mas então, por um período de 42 anos, o Poder Legislativo ficou sem representantes femininas. Algo que acabou somente em 1996, quando Ivone Maria Dewes Wenzel (PMDB) foi eleita. De lá, para cá, sempre há mulheres na Câmara Municipal, em menor ou maior número.
A bancada feminina na Casa do Povo cerro-larguense conta com três edis.
A professora Cristiane Aparecida Ribeiro (sem partido), casada com Jadir Caetano da Silva e mãe de Gabrieli e Nicoli, está cumprindo seu segundo mandato.
A auxiliar administrativa Elisabete Boeno Fonseca (MDB), casada com Orácio da Silva Fonseca, e mãe de Tiago, Fábio e Sávio, foi eleita segunda suplente. Com o falecimento de Valdemar Kunkel e a posse de Vanderlei de Castro como Secretário Municipal, foi efetivada na função.
Também no segundo mandado, está a a professora Marta Schoffen (Progressistas), mãe de Carina e Henrique.
A Folha da Produção encaminhou três questões às vereadoras, todas relacionadas ao desempenho de sua função e à luta das mulheres por mais espaço na política. Acompanhe as respostas:
Folha da Produção - Qual sua pauta prioritária, defendida no Poder Legislativo?
Cristiane Ribeiro - Poderia dizer que a Mulher, a Educação, a Saúde, os Animais ou mesmo as Classe Sociais menos favorecidas, mas acredito que o vereador em si tem que estar atento a todas as problemáticas do Município, pois somos eleitos por grupos distintos de pessoas com diferentes causas. Não somos eleitos pra defender apenas uma classe ou problemática e sim um Município e seu anseios, buscando sempre pela melhoria e desenvolvimento.
Elisabete Fonseca - Defendo a população mais vulnerável de nosso Município, a qual costumo auxiliar no que for possível.
Marta Schoffen - Como professora, procuro ter um olhar especial para a educação, pois entendo que tudo passa pela educação: saúde, meio ambiente, mobilidade urbana, empreendedorismo, enfim, praticamente todas as demais áreas têm relação e podem ser melhoradas através da educação. Porém, quando se ocupa um cargo público, como o de vereadora, é preciso ter uma visão ampla sobre todas as pautas. Nesse sentido, tenho buscado estudar e ter clareza sobre todas as matérias que circulam na casa, procurando desempenhar meu papel com eficiência, correspondendo à confiança recebida dos eleitores.
Folha da Produção - Cerro Largo ficou mais de 40 anos sem representação feminina na Câmara de Vereadores. Apenas a partir das eleições de 1996, vereadoras foram eleitas com regularidade. Como você vê a participação das mulheres na política local?
Elisabete Fonseca - Percebo que ainda hoje existe uma relutância, até mesmo por parte das mulheres, em participar do mundo político. Isto porque, temos uma cultura onde os homens sempre foram tidos como referência, como pessoas que tem voz ativa na política. Como mulher e tendo hoje a oportunidade de estar vereadora, trabalho para mostrar que nós também somos referência política, como diz o slogan da minha campanha: "A força da mulher e a coragem para fazer a diferença!"
Marta Schoffen - É interessante o que acontece com as mulheres, embora já muito debatido e divulgado, elas próprias ainda acreditam que o campo da política se destina ao público masculino. Nesse contexto, embora a mulher tenha consciência de sua força, seja na família, seja no mercado de trabalho, seja na sociedade, ainda são poucas as que se dispõem a concorrer e, pior, a maioria sequer vota em uma mulher. É certo que ambiente de um cargo público é muitas vezes hostil devido, principalmente, ao preconceito, mas é imprescindível a participação feminina nessa instância, pois a mulher tem um olhar diferenciado sobre vários aspectos, de forma a promover um equilíbrio, tanto no Legislativo, quanto no Executivo.
Ademais, como a política não se manifesta apenas na participação social através de um cargo, vejo que Cerro Largo possui muitas lideranças e forças femininas que precisam ser trabalhadas pelos próprios partidos políticos para ingressarem ativamente na política, contribuindo para o crescimento de Cerro Largo.
Cristiane Ribeiro - A participação da mulher na política é muito importante e precisa ser crescente. Ainda precisamos quebrar muitas barreiras e ser melhor ouvidas não só na política, mas em vários aspectos profissionais e sociais.
Mas já conquistamos muito comparado a nossa história e só vamos conseguir alcançar nossos objetivos quando todos perceberem que queremos estar na mesma condição de igualmente e não de superioridade. Queremos mostrar a nossa capacidade sem ter que lutar com o preconceito de gênero.
Folha da Produção - Quais políticas públicas voltadas para as mulheres, precisam ser implementadas ou reforçadas em Cerro Largo?
Marta Schoffen - Primeiro é preciso dizer que no entorno da mulher há sempre uma família, Eu acredito muito no poder da família e, como já disse, da educação. Então, penso que o foco deve ser esse, tanto nas políticas de promoção, quanto nas de proteção, de defesa, e de enfrentamento. Todas são importantes, mas a promoção é preventiva, capaz de evitar que sejam necessárias as outras intervenções. Ela tem a ver com o empoderamento da mulher.
Assim, é preciso investir para que as mulheres tenham acesso à educação – sua própria e de seus filhos. E mais, que acreditem no poder da educação. Nesse sentido, o acesso às crianças está garantido por lei, cabe investir na formação das mulheres que abandonaram a escola na juventude e agora poderiam voltar aos estudos para conquistar uma condição melhor.
Embora seja clichê, acredito que falta conscientização desse público, no sentido de perceber suas potencialidades, possibilidades e direitos. Nesse viés programas que promovam a autonomia econômica da mulher – qualificação profissional e empreendedorismo - podem ser intensificados.
Na saúde já há uma atenção bastante específica à mulher, mas entendo que pode haver maior enfoque na questão psicológica, como investimento no fortalecimento dos vínculos familiares e na boa autoestima do público feminino. Já existem iniciativas nesse sentido, mas é preciso dar maior destaque.
As questões voltadas a aspectos como discriminação e violência estão fortemente relacionadas a programas e ações de origem federal e estadual, como a delegacia da mulher, por exemplo. Penso que há uma certa sintonia entre os diferentes órgãos municipais no sentido de suprir as necessidades nesses quesitos. Secretarias municipais, Brigada Militar, Delegacia de Polícia, o próprio Conselho Tutelar, entre outros, têm dispensado atenção para a demanda que se apresenta. Acredito que o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – formado recentemente – requer maior atenção, capacitação e incentivo.
Enfim, é preciso perceber que o problema da mulher é um problema da sociedade, portanto, sua solução está no trabalho conjunto e organizado de todo o corpo social.
Cristiane Ribeiro - A maior luta da mulher, infelizmente, ainda é a violência gerada através do machismo. E aí não entra só a violência física, mas também a emocional que é a pior, porque abala, desmotiva, desvaloriza e leva a mulher a deixar de acreditar em si mesma e na sua capacidade.
Nesse ponto precisamos de um trabalho constante e crescente de apoio em várias esferas do nosso município.
É um problema complexo que não acontece só aqui, mas que em vez de diminuir está aumentando em toda parte.
O problema maior é o sentimento de impotência quando não é ouvida, fazendo com que a mulher aceite essa condição.
Elisabete Fonseca - Precisamos apoiar ainda mais as campanhas de conscientização de violência contra a mulher, de prevenção ao câncer de mama e colo de útero. E eu acredito que seria uma boa promover atividades de inclusão na vida política, para assim podermos reforçar, de maneira efetiva, que as mulheres cerro-larguenses tem voz e vez em nossa sociedade e não são apenas uma porcentagem prevista em lei que deve ser cumprida.
1ª Legislatura (1956/1959)
Eunice de Almeida Flach (PTB)
2ª Legislatura (1960/1963)
Eunice de Almeida Flach (PTB), Presidente (1960/1963)
10ª Legislatura (1997/2000)
Ivone Maria Dewes Wenzel (PMDB), Presidente (2000)
11ª Legislatura (2001/2004)
Ana Amélia Butzen Perius (PP)
Isa Godois Garcia (PP)
12ª Legislatura (2005/2008)
Isa Godois Garcia (PP)
Leoni Simon (PMDB)
Sara Beatriz Schneider (PP)
13ª Legislatura (2009/2012)
Isa Godois Garcia (PP), Presidente (2011)
Madalena Schmitt Scheid (PMDB)
14ª Legislatura (2013/2016)
Vanise Beatriz Brum (PP), Presidente (2015)
15ª Legislatura (2017/2020)
Cristiane Aparecida Ribeiro (Progressistas)
Marta Schoffen (Progressistas)
16ª Legislatura (2021/2024)
Cristiane Aparecida Ribeiro (sem partido), Presidente (2021)
Elisabete Boeno Fonseca (MDB)
Marta Schoffen (Progressistas)