Maria Dolores Schneider
Lecionou Língua Portuguesa, Literatura, Inglês e Espanhol no colégio, de 1970 a 2010
Envolvida me sinto pelas lembranças de um viver no Colégio Estadual João de Castilho, pelas manhãs de sol nascente, quando parávamos o carro para apreciar a geada nas baixadas dos morros antes da área industrial da empresa Becker. Guido Henz, Ellen Klein, Dolores e Margarida München davam-se a este prazer matinal.
Pelos "cavalos-de-pau" que sem querer o Pe. José Schardong às vezes fazia na frente dos Erich, devido as chuvas que tornavam as estradas lisas demais.- Pela beleza da antiga estrada da Caçador que depois de curvas pequenas deixava o ipê roxo apresentar-se em sua beleza colorida.
Pelas horas de espera do ônibus vendo os operários da Becker indo para casa e eu sentindo a melancolia do crepúsculo do escurecer e da demora da condução, o ônibus de Zeca Specht. O consolo era a conversa com Frau Nedel em seu casarão, e Ceci Spohr (no bar da esquina) ou na loja - rodoviária com Harry Lenz e Lacy, ou as mocinhas e donos do Bar do Dewes, na esquina.
Pela poeira, pelo barro, pelas caronas que antecipavam minha chegada em casa.
Pelos momentos de descontração antes das aulas noturnas, quando Irmã Carmem, Lurdes Schwertner, Paulo Holdefer e eu íamos até o sítio do Professor Paulo Holdefer buscar pão de milho e leite para a jantinha ou café antes da aula. Neusa Fioravante também participava destas fugidinhas, pois lecionou com a turma de tantos professores que foram tão importantes.
Pelo bom relacionamento com a Direção, desde Evaldo, Benedito, Viro, Arnaldo, Guido, Ambrósio, Roberto, Dilce e seus colaboradores.
Pelas horas de estudo, de preparação de aula em uma sala com uma grande mesa na ala do atual Fundamental.
Pelas confidências que faziam nesta sala. Pelas angústias de alguns colegas que tinham problemas pessoais, que temiam a morte, como o professor Harry Ten Caten que dizia "Vou tirar uma licença-prêmio depois vou morar lá em cima" (no cemitério, ele mostrava). Ele que aceitava tudo "sem problemas", previa o seu fim...
Pela perda de mais colegas como Irmã Carmem Link que pensava estar com dores nas costas de tanto debruçar-se para falar aos alunos e ouvir os problemas deles em sua Orientação Educacional. O câncer tirava-lhes as forças...
Pela falta do Pe. José com sua humildade, sua discrição e atendimento aos alunos todas segundas-feiras. Era seu dia de lecionar e disso não abria mão.
Pela alegre convivência com o Pe. João Both, que nos recreios contava suas histórias enquanto batia com os dedos na mesa da sala. Sua perna causava-lhe problemas e o câncer também o levou...
Pelas aulas de Inglês que Roque Sander ministrou e que perdeu seu Fusca em uma ocasião quando o roubaram. A vida o câncer também lhe roubou...
Pelas aulas integradas em que Elveni Welter, Margarida München Wenzel e eu dávamos no salão.
Pela alegria dos alunos quando tiravam notas boas nas disciplinas como Física e Química. Aliás o professor Aristides Mentges que o diga.
Pela gentil assistência das domésticas no dia-a-dia.
Pelos almoços animados no dia-a-dia; Lourdes Mörschbacher, Clarice Fröhlich, Margarida Wenzel, Ana Szymansky e eu dávamos um jeito de cozinhar.
Pelas horas-cívicas lindas, pelas homenagens aos Pais, Mães, Páscoa, Semana da Pátria, etc.
Pelo uniforme verde com o qual desfilaram em Cerro Largo.
Pelas excursões a Gramado, Foz do Iguaçu, Porto Alegre, Santa Maria, Santo Ângelo e Ijuí, etc.
Pelas visitas, esperadas ou não, de autoridades como Governadores, Delegados de Educação da 14ª, da 31ª (Cerro Largo), dos responsáveis pelo ensino da Língua Alemã do Instituto Goethe.
Pelas inaugurações de quadra esportiva, de obras construídas...
Pelas conquistas de: Ginásio, 2º Grau, após muita luta e trabalho empreendidos pelos líderes locais e professor Evaldo.
Pelas ocorrências não boas como o dia da queda de uma laje na cabeça de um operário (no Posto de Saúde). Do fogo que o professor Zeca fez para queimar o lixo da nossa sala de estudo e que atingiu um pinheiro. Lourdes Morschbacher xingou-nos depois, porque nós, Zeca e eu, fomos de "Chevetão" e ela teve que apagar o fogo. Zeca era o dono da bola e do chimarrão.
Pela excursão azarada em que uma moça caiu na fossa de uma latrina em Foz do Iguaçu. Era de madeira o banheiro, que também servia de WC. A moça passou o resto da viagem tomando remédios e injeções.
Por outra excursão em que ao chegar perto do local do pic-nic, os motoristas do ônibus tiveram medo da chuva. "Se passarmos agora não voltaremos depois, a estrada é muito ruim se chover". Todos pegaram sua merenda comeram num local perto de uma igreja e voltamos do tal Roncador, próximo a Porto Lucena. Quem lucrou foram Elenita e Solmi Perius, pois não chegamos tão cedo em Salvador, ficamos um pouco em Campina, terra natal delas.
Pelas correrias que havia ao aparecer autoridade inesperada; era alunos varrendo ligeiro a sala e corredores, pois na época limpar o colégio era trabalho dos alunos.
Pelas belas coisas que faziam em aulas de Educação Artística ou Economia Doméstica. Liderando os alunos, Círia Spohr, Afra Hilgert, Clarice München, a querida e tão cedo levada devido a leucemia, a professora Eloisa Bracht. Certamente, muitos alunos ainda hoje fazem as coisas com que dela aprenderam.
Pela chegada das crianças do Primário com sua diretora e professoras para a nossa escola. Deixaram seu pátio, suas salas, seu caminho com apreensão. Pensavam não se acostumar no prédio do Ginásio. Mas deu tudo certo. Lucila Griebeler e seus professores que o digam.
Pela ocasião em que Roseli Steffens caiu em uma valeta, com seu carro, na estrada de Caçador, devido a uma carroça que apareceu na descida da lombada. Luana, sua filha de três anos é que muito se assustou...
Pelas "horas do conto" na biblioteca. Momentos de alegria e encantamento para as crianças, pois ouviam estorinhas e olhavam slides projetados.
Pela saída de Roberto e Clarice Mentges, e tantos outros bons professores.
Pelos projetos governamentais de poucos resultados, mas de muita exigência para com os professores.
Pelas visitas à comunidades, esportes, encontros de confraternização como o de Campina, Butiá, Santo Antônio, etc.
Pelos churrascos, gostosos e não tanto como o que certa vez tivemos, o pessoal da 31ª DE veio até nós e na hora de servir-se a carne ela estava sem sal. Pensava-se que o vendedor da mesma tivesse salgado... O que salvou foram as cucas.
E destas e muitas lembranças ficam as marcas e gratificações porque Professor nenhum se esquece: dos olhos atentos e indagadores de alunos desejosos de aprender, outros desatentos, conversadores, mas não desrespeitosos, pois risadinhas já os satisfaziam; dos nomes marcados em listas de chamada e que depois de um tempo estão em evidência em lugares próximos ou distantes, porque as pessoas cresceram, tornaram-se ótimos profissionais e cidadãos. E é esta a recompensa do professor: ver que as sementes não foram atiradas em solo sempre árido, muitas delas vingam, dão flores e frutos.
E isto faz com que possamos dizer: Valeu e vale a pena ser Professor!