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Publicado em 08/10/2020 14:37:02 • Cultura

Conheça parentes desconhecidos de Sherlock Holmes

Lançamento de Enola Holmes despertou interesse pelo famoso detetive inglês
Fotos: Reprodução

Dia desses, a galera muito louca do Twitter fez Sherlock Holmes chegar aos Trending Topics. De repente, o detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle disputava espaço com Felipe Neto e "A Fazenda", veja você. O motivo foi o lançamento de Enola Holmes, da Netflix (saiba mais AQUI).

No filme, Millie Bobby Brown, a Eleven de "Stranger Things", é a irmã mais nova do investigador, interpretado por Henry Cavill ("interpretado", no caso, é forçação de barra minha. Cavill faz aquilo de sempre: muita pose e biquinho, como se estivesse num ensaio de moda da "GQ").

Enola Holmes foi criada pela autora americana Nancy Springer, em 2006, e já apareceu em seis livros. Mas os cherloques do Twitter não sabiam e ficaram perplexos ao descobrir que a menina era inventada. Pior ainda! Perceberam também que sequer o irmão famoso tinha existido! E assim o personagem de Conan Doyle foi parar nos TTs.

Você debocha, vil leitor, mas essa confusão é histórica. Visitei duas vezes o Museu Sherlock Holmes, em Londres, que fica no 221B da Baker Street. É supostamente a própria casa onde Holmes e Watson teriam morado, agora transformada em museu. Mas isso é apenas uma cortesia da Prefeitura para manter a ilusão. A numeração da rua foi mudada e o prédio, na verdade, está na altura do 237 B. Sherlock nunca existiu, eu juro. Apesar disso, uma das atrações do pequeno museu são cartas reais que pedem ajuda ao detetive fictício. São mensagens enviadas desde 1887, quando as aventuras do investigador começaram a ser serializadas na revista britânica "Strand Magazine".

Sherlock Holmes é um fenômeno pop desde a primeira história, "Um Estudo em Vermelho". Ele sobreviveu à morte do próprio criador e continua por aí, ganhando livros novos e até irmãs. A fanfiction praticamente nasceu com ele e o detetive foi copiado, imitado, parodiado e satirizado. Como gosto muito do Sherlock Original e também dos Sherlocks Alternativos, fiz uma listinha das minhas obras favoritas com o detetive, mas não escritas por Arthur Conan Doyle, seu criador.

E é tudo livro de verdade, eu juro. No shit, Sherlock!

Arsène Lupin contra Herlock Sholmes, de Maurice Leblanc
Arsène Lupin foi criado pelo francês Maurice Leblanc em 1908. Ele é um misto de detetive e ladrão da alta classe. A inspiração para o personagem vem do próprio Sherlock, mas também de A. J. Raffles, outro "ladrão de casaca" literário criado pelo inglês E.W. Hornung, cunhado de Conan Doyle. Neste livro, Maurice Leblanc apenas muda levemente o nome do detetive inglês (Herlock Sholmes) e do seu assistente (Doutor Wilson) para envolvê-los em duas tramas. Arsène Lupin leva a melhor nas duas, é claro. Conan Doyle ficou muito puto quando essas desventuras de Herlock Sholmes foram publicadas, mas as histórias, além de divertidas, constituem um dos primeiros crossovers da literatura. O livro foi publicado aqui pela Zahar, atualmente um selo do grupo Cia das Letras.

Uma Solução Sete por Cento, de Nicholas Meyer
Escrito em 1974, esse é um dos pastiches mais engenhosos de Sherlock Holmes. A história se passa no chamado "Grande Hiato", período que vai da suposta morte do detetive nas cataratas de Reichenbach até seu retorno em "O Cão dos Baskervilles". Na verdade, Conan Doyle havia mesmo assassinado o personagem. O autor, que queria ser reconhecido pelos romances históricos, tinha ciúme da própria criação e só trouxe Holmes de volta devido à pressão dos fãs. A história de Nicholas Meyer acontece no período em que o detetive está sumido e o "real" motivo dessa ausência é que move a trama. Viciado em cocaína (substância que o personagem usa e abusa em muitos contos), Sherlock tem alucinações com um certo professor Moriarty, que ele considera um gênio do crime. Preocupados, Doutor Watson e Mycroft Holmes fazem Sherlock visitar um certo Sigmund Freud, em Viena, que talvez possa curá-lo do vício com seus novos métodos terapêuticos. Enquanto Sigmund Freud investiga qual trauma psicológico do detetive causou a aparição de Moriarty, Sherlock Holmes se envolve numa intrincada trama política para fazer explodir uma guerra total na Europa. O livro foi um sucesso na época e Nicholas Meyer, entusiasmado, escreveu mais dois pastiches com o personagem. Num deles, o detetive encontra George Bernard Shaw e, no outro, o Fantasma da Ópera. "Uma Solução Sete por Cento" saiu no Brasil pela extinta Artenova. Também existe um filme de 1976, dirigido por Herbert Ross.

O Xangô de Baker Street, de Jô Soares
O primeiro romance de Jô Soares traz Sherlock Holmes ao Brasil numa trama que mistura Sarah Bernhardt, o roubo de um violino Stradivarius, o imperador Dom Pedro II e um brutal e perigoso serial killer. O livro tem ainda vários personagens da época no papel de figurantes, tipo Chiquinha Gonzaga e Olavo Bilac. Sou fã dos livros do Jô, um autor que mescla muito bem humor com ficção. Só lamento que esta aventura de Holmes não seja narrada por Watson, como acontece nas obras canônicas. O doutor segue o detetive na viagem ao Brasil, mas a história é contada na terceira pessoa para que o autor também possa acompanhar o assassino serial. Em 2001, Miguel Faria Jr. levou o livro ao cinema com o português Joaquim de Almeida no papel de Sherlock Holmes. Almeida fala uma língua que ninguém consegue entender e que muitos acreditam ser português, mas há controvérsia. O livro de Jô Soares foi lançado pela Cia das Letras.

Schlock Homes — The complete Bagel Street Saga, de Robert L. Fish
Infelizmente, nenhum editor lançou no Brasil essa divertida paródia de Holmes escrita por Robert L. Fish. São 32 contos que envolvem o detetive Schlock Homes, seu biógrafo dr. Watney, o irmão Criscoft Homes e o vilanesco Professor Marty. Homes vive em Bagel Street, em Londres, e é um detetive tão eficiente quanto o Holmes original. O único problema é que ele sempre se deixa levar pela imaginação e chega a conclusões absolutamente cretinas e equivocadas a partir das pistas que encontra. Fish foi autor policial e morou no Rio de Janeiro nos anos 50. Schlock Homes nasceu aqui e é um inglês meio carioca, feito o Ritchie. As aventuras do personagem saíram todas na "Ellery Queen's Mystery Magazine" e só depois foram reunidas nessa antologia, publicada em 1990. O livro é da Gaslight Publications.

As Novas Aventuras de Sherlock Holmes, vários autores
Essa caixa da Ediouro é fundamental para todo fã de Sherlock Holmes. São pastiches, paródias e homenagens assinados por autores famosos (ou não tão famosos) como Stephen King, Neil Gaiman, P. G. Wodehouse, Anthony Burgess e o próprio Robert L. Fish, citado acima. A antologia dá espaço para todo tipo de conto — os bons, os maus e os feios —, mas tem o cuidado de ser absolutamente fiel ao espírito da obra original. É sempre Sherlock Holmes que está em cena, mesmo em versões atrapalhadas, obtusas ou alienígenas. Gosto especialmente da narrativa da americana Laurie R. King, que mostra o detetive aposentado e casado com Mary Russell, que é, de fato, a personagem principal. As aventuras de Mary Russel e Sherlock Holmes são publicadas desde 1995 e foram precursoras de Enola Holmes. Russel é tão perspicaz quanto o marido, mas bem menos irascível e pernóstica. É um pouco como Enola, a irmã mais nova do detetive que não existe. Por falar nisso, a produção da Netflix é bobinha, porém fofinha. Vale a pena dar uma espiadinha.

Fonte: Edson Aran / Revista Bula
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