Cerro Largo, 31 de janeiro de 2025. Boa Madrugada!
[email protected] (55) 9.9982.2424
Logomarca LH Franqui
Publicado em 11/10/2019 09:26:56 • Artigos

IRET-NEFERET: um marco cultural protegido para a eternidade

Crédito: Arquivo / Folha da Produção

Ana Clara Schneider Ribeiro (*)

Eu tinha um tanto de orgulho em ser cerro-larguense. Mas nunca soube explicar ao certo, o que gerava em mim este sentimento.

Nasci em meio aos livros. Vivi quase que pedindo licença a eles, quando entrava na pequena sala de estudos, em casa. Estavam por todo o canto, abertos, fechados, espalhados, ou devidamente empilhados, um sobre o outro. E os que mais me chamavam a atenção eram os que estampavam em suas páginas o colorido das obras de arte - monumentos, estátuas, múmias.

E eu me descobri filha do Berço Regional da Cultura - codinome emprestado ao meu município. Aos poucos, fui entendendo essa ligação que se desenhava, criava sentido, atribuía poder e importância a um gosto tão meu. Eu apreciava tudo o que estava exposto, aparecia para o público, era digno de estimação, não ficava guardado, pudesse ser explorado.

Visitava o Museu 25 de Julho, não com tanta frequência. Todavia, ao fazê-lo, observava detalhes, espichava o tempo da hora, sem nada deixar escapar. E, quando descobri este lugar, em manchete, a vontade de escrever sobre ele se agigantou.

Eu me deparei com a seguinte notícia: 'Múmia egípcia identificada no interior do RS estará em exposição, em Porto Alegre, a partir desta terça'. E esse interior era o meu, por nascimento.

Vi o retrato da múmia! Era ela - aquela que, durante 30 anos, ocupou um espaço no Centro Cultural, sem nome e sem certeza de procedência. E estava, agora, em exposição na capital. Ela era notícia!

Corri atrás do que expressavam na mídia impressa e na televisão. E entendi: Iret-Neferet, a múmia egípcia de Cerro Largo, é o marco representativo de um lugar que a acolheu, sem mesmo saber de onde vinha e a que chegava.

Hoje, identificada segundo exame de radiocarbono, realizado nos Estados Unidos, exibe uma história. É o crânio de uma mulher de 42 ou 43 anos, que viveu entre o final do Período Intermediário III e o início do Período Tardio, do Egito. Segundo o pesquisador e pós-doutor em História, professor Édison Hüttner, o significado do seu nome é 'olho bonito'. Teve, em nível nacional, confirmação de idade, tempo e sexo. Para mim, o que se confirmou vai além. Iret-Neferet é um retrato do sentido egípcio - o da ordem no detalhe.

O preparo deste crânio para o pós-vida deve ter passado por um longo e elaborado processo - ou ter, apenas, permanecido no deserto do Antigo Egito, secando, como secava o que era mumificado. Talvez, tenha sido enterrado em sarcófago de calcário, não sei. O que sei é que a operação de agora foi eficiente, e Cerro Largo conta com um marco cultural, protegido para a eternidade.

E a múmia vem fazendo história, neste lugar reservado, ao qual denominaram 'Espaço Iret-Neferet', paragem que sugere que eu observe detalhes, espiche o tempo das horas e não deixe nada escapar.

É neste município missioneiro, que fica a quase 500 quilômetros, distante da capital gaúcha, que me ponho curiosa, olhando o que está exposto, o que aparece para o público, o que é digno de estimação, o que não fica guardado, o que pode ser explorado - criando sentido ao 'quase nada' do que sei sobre a pessoa, dona desse símbolo mumificado, que populariza uma civilização, que engrandece e legitima a erudição, que garante a imortalidade de um período histórico, neste lugar do interior, (re)conhecido como Berço Regional da Cultura - o meu lugar!

* Graduanda do Curso de Jornalismo (UNIPAMPA - Campus São Borja)

Fonte: Ana Clara Schneider Ribeiro
iret-neferet
iret neferet
múmia
múmia de cerro largo
ana clara schneider ribeiro
CONTINUE LENDO
Receba nossas notícias pelo WhatsApp