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Publicado em 12/11/2020 13:15:31 • Cerro Largo

Roberto Busse: uma história inspiradora que jamais se perderá no tempo

Porque o roteiro inclui amor, empreendedorismo, dignidade e determinação
Lucas, Márcia, Roberto, Roberta e Renan (Foto: Arquivo de Família)

Se hoje em dia é difícil empreender, mesmo tendo como aliado o constante avanço da tecnologia, imagine na década de 40. Mas os obstáculos não intimidaram a família Busse, que, com muito êxito e persistência, já está na quarta geração à frente dos negócios.

A empresa teve início na década de 40, com a denominação de Oficina Busse, fundada por Otto Martin Busse. No ano de 1960, inicia a atividade industrial, já com o nome de Irmãos Busse Ltda, com seus proprietários Heinz Gottfried Busse e Werner Henrique Busse. Em julho de 1972, se separou em duas e o nome mudou para Industrial Busse Ltda, assim conhecida até hoje, localizada em Cerro Largo, região das Missões, no Noroeste Gaúcho.

Quem contou sobre essa história de desafios e conquistas, foi o empresário Roberto Busse, duas semanas antes de seu falecimento, que ontem (11/11) completou um ano. Mesmo debilitado, ele relatou e rememorou momentos que marcaram sua vida pessoal e profissional.

A entrevista está sendo divulgada somente agora em respeito à sua família, que preferiu esperar até abrandar um pouco a dor de perder uma pessoa que jamais será esquecida. Tudo o que Roberto Busse disse é relevante, significativo e, acima de tudo, comprova que na vida tudo passa, mas o amor e o exemplo permanecem para sempre no coração e nas atitudes de quem fica.

O empresário cerro-larguense falou sobre o valor da vida, a infância, o legado deixado por seu pai, o amor pela família, a solidariedade com os animais, a sucessão familiar no campo e na cidade, e revelou um sonho que realizou depois de 50 anos. Uma trajetória que jamais se perderá no tempo.

Durante toda a entrevista, Roberto manteve a serenidade que lhe era peculiar. Mas, quando perguntei sobre empreendedorismo, ele foi enfático: "acreditar em sua capacidade, persistir e trabalhar. Como as coisas não caem do céu, na zona de conforto dificilmente as coisas acontecem".

Atualmente, a Industrial Busse Ltda tem duas unidades fabris em Cerro Largo, com modernos equipamentos e métodos de produção, sempre visando a qualidade aplicada nos produtos e soluções ao agronegócio.

Em que circunstâncias você despertou para o empreendedorismo?
Roberto Busse - Desde criança. Lembro que eu tinha uns sete anos de idade e gostava de ir junto com o pai no trabalho, de curioso mesmo. Eu brincava com as ferramentas, olhava atentamente os equipamentos agrícolas e sempre fazia muitas perguntas.

Dessa época, tem algo que te marcou?
Roberto Busse - Eu tinha um trator, que ficou na minha nostalgia por muito tempo. Cinquenta anos depois, comprei um trator do jeito que eu queria, reformei e realizei meu sonho.

Tudo começou com a Oficina Busse?
Roberto Busse - Sim. Em 1943 meu avô Otto Martin Busse, natural da Linha 4 (Atual Dona Otília), interior de Roque Gonzales, fundou a Oficina Busse em Cerro Largo (Na época Serro Azul). A firma prestava serviços especializados como locomóveis, fabricação de peças de precisão, peças para implementos agrícolas, além de tratores importados. Mas o 'espírito' de indústria iniciou com o meu pai, Heinz Gottfried Busse, na década de 60. Naquele tempo, os serviços eram bem artesanais e para facilitar a vida do agricultor, começaram a fabricar implementos agrícolas em série. Depois, em 1961, a fabricação dos trituradores de cereais e em 1965, as prensas de cana.

Em Cerro Largo, a Industrial Busse foi pioneira em fundição?
Roberto Busse - Isso mesmo. A primeira fundição em Cerro largo foi inaugurada em 1966, na nossa firma. Na época, meu pai foi para São Paulo e comprou a fundição, que na década de 70 precisou ser fechada porque os resíduos poluiam a cidade. Mas, como sempre tivemos bons funcionários, um deles, o Arnaldo Borguetti, uma cara muito inteligente que trabalhava conosco, posteriormente instalou em nossa cidade a Fundição Borguetti.

Quando você entrou na empresa?
Roberto Busse - Na década de 80, por volta dos 28 anos de idade. Como eu tinha trabalhado em Porto Alegre e adquirido um bom conhecimento, retornei pra ajudar meu pai. No início, tive algumas dificuldades para impor minhas ideias e tecnologias novas. Mas, com o passar do tempo as coisas foram se ajeitando.

Isso tudo é compreensível, pois para a geração do meu pai, que da maneira que pode lutou muito pra conseguir alcançar seus objetivos, era mesmo difícil aceitar as mudanças. Na realidade, as coisas andam tão rápidas, que chega uma hora em que as pessoas já não acompanham mais, muitas vezes até sentem-se ultrapassadas.

Como você avalia a sucessão familiar?
Roberto Busse - Na sucessão familiar é fundamental ter uma relação de confiança. Os dois lados devem estar preparados. Se um lado não estiver, não é sucessão familiar. Os pais devem orientar e dar um voto de confiança para os filhos. Deixar que tomem a iniciativa. Depois, se algo não for bem, dizer como conduziriam, se ainda estivessem à frente da empresa.

Outra questão importante, os pais precisam aceitar as novas tecnologias. Na área rural, por exemplo, eles devem tratar a propriedade como uma empresa. O tempo em que dar 50 ‘pila’ para o filho ir ao baile valia como pagamento por seus serviços, já passou. Ou seja, incentivar os filhos para que estudem fora, voltem com mais conhecimento, ideias inovadoras e sejam remunerados de acordo com seu trabalho.

E o teu sucessor, Renan Busse?
Roberto Busse - Iniciou cedo na empresa, aos 26 anos de idade, e está indo muito bem! Eu gostaria que ele adquirisse mais experiência e continuasse estudando em Santa Maria. Só que quando descobri minha doença, há dois anos, foi necessário que ele viesse. Está fazendo um ótimo trabalho. Sou grato a ele e a todos os nossos funcionários.

Recado para os jovens empreendedores:
Roberto Busse - Não adianta ir embora, porque também nos grandes centros terá concorrência, seja qual for a área de atuação. Nas cidades pequenas você pode estudar bem o mercado, firmar boas parcerias, investir e crescer aos poucos, até como alternativa para evitar o êxodo rural. E também para ajudar a modernizar a empresa familiar. Acima de tudo, confiar em sua capacidade, persistir e trabalhar. Como as coisas não caem do céu, na zona de conforto não acontece nada!

Você é um dos fundadores da Animania. Como surgiu esse trabalho em defesa dos animais abandonados?
Roberto Busse - Comecei a recolher animais na estrada, quando eu viajava a noite. Também aqui na cidade recolhi alguns cachorros da rua. Levava todos para o meu sítio, cuidava, alimentava e procurava alguém pra ficar eles. No início, eu estava sozinho, mas em julho de 2017 fundamos em Cerro Largo a Animania (Associação dos Direitos em Defesa dos Animais). A partir daí, multiplicou o número de pessoas que lutam por essa causa. Ao grupo da Animania e a todas as pessoas que, voluntariamente, estão engajadas em apoio aos animais abandonados, peço que não desistam dessa luta. Passem por cima das dificuldades e sigam firme nesse trabalho solidário.

Qual é a representatividade dos teus pais, Ielda Vieira e Heinz Gottfried Busse?
Roberto Busse - Minha mãe, uma pessoa muito importante em minha vida. Meu pai, uma pessoa determinada, um visionário. Um homem que começou do zero e construiu a indústria, porque acreditava em sua capacidade e lutava até conseguir realizar suas ideias.

Qual o maior legado deixado pelo teu pai?
Roberto Busse - Correto, Justo e Firme! Valores que aprendi com ele e repassei aos meus três filhos, Roberta, Lucas e Renan, que atualmente está à frente da empresa, e também tem colocado em prática estas três atitudes significativas.

Meu pai foi um exemplo em empreendedorismo, pois ele que começou a verdadeira fabricação em série. Ia pra São Paulo conhecer novas máquinas, numa época em que nem asfalto tinha, e ele já ia longe buscar cases de sucesso. Visitava muitas feiras, empresas, comprava máquinas mais modernas. Naquele tempo, poucos empresários do interior viajavam para grandes centros como São Paulo.

De Cerro Largo, também viajava muito e com o mesmo propósito, o senhor Aloysio Eleutério Becker, que assim como meu pai, começou do zero, e quem seguiu desenvolvendo a empresa foi o seu filho, Eleonor Becker.

ESPOSA:
Roberto Busse - O amor se torna maduro e mais forte com o passar dos anos. Minha esposa Márcia é meu apoio, meu porto seguro.

FILHOS:
Roberto Busse - Procuro sempre ser um pai amigo e amo os meus filhos, cada um com a sua particularidade. Me emociona falar dos meus filhos, porque eu queria ter mais tempo ao lado deles.

Se você pudesse voltar no tempo, faria algo diferente?
Roberto Busse - Eu teria ficado mais em casa. Na fábrica eu me envolvia noventa por cento, cuidava de tudo, sabia de tudo o que acontecia. Desde que Renan assumiu o comando da empresa, percebi que não muda nada eu não estar presente o tempo todo.

Ou seja, independente do ritmo, no trabalho as coisas seguem acontecendo naturalmente. Mas estar com a família é o que realmente importa.

A vida também segue seu curso e passa depressa...

Fonte: Karin Schmidt, jornalista e documentarista
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