Finalmente assisti o famigerado Oppenheimer. O filme é bom, mas superestimado, não terá muita importância para as gerações futuras. Ao contrário do próprio Robert Oppenheimer, físico que deixou seu nome na história ao chefiar o projeto que garantiu ao homem o poder de destruir o próprio planeta em questão de minutos, com a criação da bomba atômica. Bomba essa que explodiu as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Ao longo do filme, Robert enfrenta um dilema muito difícil: matar milhares para salvar milhões. Bem, ao menos é essa a história que ele conta para si mesmo, o que pode esconder um desejo narcisista de dar continuidade ao projeto apenas para ver seu nome famoso. Havia realmente necessidade de usar armas nucleares contra o Japão no final dos anos 40? Essa é uma pergunta que o físico certamente fez a si mesmo até o fim de sua vida e que alimentou um dos sentimentos mais nocivos que acometem ao ser humano, o sentimento de culpa.
Ao longo do ano vi muitas pessoas fazendo memes com a culpa de Oppenheimer, como ele poderia criar uma arma de destruição em massa e ficar espantado com o potencial caótico de sua própria criação. Bem, o ser humano é realmente complexo nesse ponto. Fazemos coisas sabendo que iremos nos arrepender, mas ignoramos a voz que tenta nos impedir disso. É como se houvesse uma batalha entre dois eus; um anarquista, que acha que pode tudo; e um ditador, que tenta controlar o anarquista através de regras muito rígidas. Quando damos vitória ao anarquista mais tarde o ditador volta para nos atormentar em forma de culpa.
A culpa é um combustível para a depressão, sua cura se dá pela redenção, pelo gesto de fazer as pazes. Robert bem que tentou isso ao militar contra as armas nucleares após ter feito o que fez, porém o olhar atormentando do ator Cillian Murphy no filme nos convence de que seu personagem não morreu em paz.
Mas… ao menos tentou. Em minha prática clínica, vejo que as pessoas passam tanto tempo de suas vidas convivendo com a culpa, que é como se ela fizesse parte de uma identidade pessoal. Pessoas preferem continuar sofrendo do que fazer as pazes com o passado e pedir desculpas a entes queridos (ou nesse caso entes feridos) pelo medo da mudança que isso acarreta. É como se ao pedir perdão e reconhecer o erro a pessoa perdesse uma parte de si. E ainda existe o medo de ficar vulnerável, o que equivale ao fracasso em uma sociedade que nos obriga a ter alta performance o tempo inteiro.
Felizmente, a maioria de nós não jogou nenhuma bomba atômica em outro continente.
Ainda dá tempo de fazer as pazes, esse seria o meu recado para aqueles que querem fazer a terceira guerra mundial acontecer!
(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo.