Ultimamente eu tenho pensando muito sobre a frase "a juventude é desperdiçada nos jovens", que eu achava ser de Sartre, mas é de um sujeito chamado George Bernard Shawn. Acho que o que ele quis dizer quando a formulou é que a juventude é uma fase muito rica em oportunidades, mas desperdiçada por nossa falta de maturidade para reconhecê-las. De fato, a vantagem da idade é a experiência, a desvantagem é o tempo perdido remoendo o que deveria ter sido feito lá atrás. É um paradoxo angustiante esse que nos ensinaram lá nos primeiros anos de escola, de que "é errando que se aprende", assim como aquele clichê de que a gente tem que primeiro perder para aprender a dar valor.
Quando estou conversando com um paciente, uma pergunta que quase sempre faço é o que a pessoa poderia fazer se pudesse voltar no tempo, mais especificamente na infância. A minha intenção com essa pergunta é descobrir qual é a grande perda que pode estar assombrando a vida daquela pessoa. Sim, pois as perdas e faltas são muito mais significativas em nossas vidas do que as coisas que sempre estiveram ali. O dinheiro tem mais valor para alguém que nasceu pobre do que para alguém que nasceu rico, pois este o vê como oxigênio (algo que está ali, mas não sente), enquanto que aquele o vê como comida (algo que precisa sempre ser reposto), logo, neste mesmo exemplo, a falta de dinheiro é um trauma, enquanto que a abundância evidentemente não.
Uma das razões para prestarmos mais atenção para o que nos falta mais do que não nos falta é evolutiva. Nosso cérebro é programado para sobreviver e nosso instinto de autopreservação nos faz procurar coisas que nos mantenham vivos e seguros. Porém mesmo quando atendemos essas duas condições, continuamos com a sensação de que nos falta alguma coisa e muitas vezes nos iludimos com a impressão de que no passado tínhamos essa coisa. É aí que entram as oportunidades perdidas, que de fato existem, mas o resultado que viriam delas é apenas hipotético. Eu posso passar uma vida toda olhando para trás e pensando em todas as coisas que deixei de fazer, mas se tivesse feito todas essas coisas, o que me garante que eu não continuaria pensando em outras coisas que deixei de fazer?
Esse nosso vício da mente de olhar para o passado perdido e idealizado é difícil de remediar, mas tem um exercício bacana que costumo propor para os que se sentem presos no tempo: pense em todas as coisas ruins que NÃO te aconteceram até hoje. Assim como nossa vida poderia estar melhor de diversas maneiras, também são infinitas as possibilidades de que ela poderia estar pior. Reconhecer isso é o primeiro passo para a gratidão. E também para a liberdade!
(*) Leonardo é Psicólogo e atende em Cerro Largo